sábado, 23 de fevereiro de 2013

Argo (Argo, 2013)

Ben Affleck mostrou à Hollywood que existia vida inteligente debaixo da fantasia de Demolidor (‘Demolidor: O Homem sem Medo’ de 2003), fiasco de crítica e público que praticamente encerrou com a 'carreira' do super-herói nos cinemas. George Clooney mostrou à Hollywood que existia vida inteligente debaixo da fantasia de Batman (‘Batman & Robin de 1997), fiasco psicodélico que quase encerrou a 'carreira' do super-herói nos cinemas. Juntas as duas cabeças pensantes, Affleck como diretor, produtor e ator e Clooney como produtor, produziram um dos maiores papa prêmios dos últimos anos. 'Argo' sagrou-se vencedor em todas as cerimônias pré Oscar. Ganhou o Globo de Ouro de Direção e Filme além do Screen Actors Guild of America de Melhor Elenco, Directors Guild of America (Melhor Direção), Producers Guild of America (Melhor Filme), Writers Guild of America (Melhor Roteiro Adaptado) e o Bafta, o oscar inglês, de Melhor Filme e Direção. 

Fonte: http://www.tvi24.iol.pt


Se hoje é considerado barbada para a estatueta de Melhor Filme, não é demais lembrar que na divulgação dos indicados ao Oscar, a película ainda não gozava de tanto prestígio. ‘Argo’ foi apenas o quarto filme em indicações (7 indicações) e Affleck não apareceu entre os cinco diretores que estarão amanhã, dia 24 de Fevereiro, no Kodak Theatre na Califórnia concorrendo ao Oscar de direção, deixando o caminho aberto para Spielberg levar seu terceiro carinha dourado pra casa (ganhou em 1992 por ‘A Lista de Schindler’ e em 2000 por ‘O Resgate do Soldado Ryan’).

O filme, baseado em fatos reais, conta a história do resgate de seis diplomatas americanos que se refugiaram na casa do embaixador canadense em Teerã (Irã), após a embaixada americana ter sido invadida por manifestantes, que reivindicavam a extradição de Mohammad Reza Pahlavi. ex governante do país. Pahlavi havia reassumido o poder do Irã em 1953 (assumira de 1941 até o 1951) depondo o primeiro-ministro democraticamente eleito Mohammad Mosaddeq, em um golpe patrocinado por Estados Unidos e Grã-Bretanha, motivados pelo controle petrolífero do Irã. Mosaddeq, em sua curta ‘empreitada’ promoveu a nacionalização da exploração do petróleo extinguindo a empresa Anglo-Iranian Oil Company. A ditadura de Xá Pahlavi espalhou o medo e a fome no país até 1979, quando a Revolução Islâmica (segunda fase da Revolução Iraniana) elevou ao poder o aiatolá Ruhollah Khomeini. 

Fonte: http://colunistas.ig.com.br/

À época a CIA levantou diversas opções para resgatar os seis cidadãos americanos dando preferência a uma ação de inteligência à opção militarizada. De todas as ideias ruins, a ‘menos pior’ de todas era a de simular a realização de um filme de ficção científica que teria algumas locações no Irã. Para dar veracidade a história um escritório de uma falsa produtora de cinema foi criado; uma coletiva de imprensa com atores lendo o roteiro foi realizada; anúncios foram colocados em jornais e story boards foram desenhados. Tony Mendez (Ben Affleck), funcionário da CIA, criador da proposta do falso filme, ficou encarregado do resgate e viajando ao Irã contou com apenas dois dias para treinar os funcionários da embaixada em suas funções no suposto filme e convencer autoridades iranianas da história contada e trazer os diplomatas em segurança para o solo americano. 

O filme retrata desde a invasão à embaixada, apresentando uma boa reconstituição que por vezes lembra um documentário (ao final da projeção, junto com os créditos, essa qualidade pode ser ratificada), passa pelo treinamento e culmina com a fuga do país. A abertura se dá sob a forma de quadrinhos e claramente explicita os antecedentes à revolução que desencadeia a invasão à embaixada. Esse ‘prefácio’ faz um mea culpa americano para a crise implantada no país. Seu roteiro muito bem escrito e edição sem muita surpresa, mas primorosa, oferecem agilidade ao filme fazendo suas duas horas passarem levemente. Com a intenção de inserir o espectador na cena, a câmera está sempre dentro da ação. Com isso Affleck afasta seu filme do espetáculo o dando um tom mais intimista e essa ‘simplicidade’ revela a grandiosidade da história que tem em mãos. A competente fotografia e os bons figurinos colaboram para localizarmos a história no período correto. O elenco premiado no Screen Actors Guild está impecável, contudo é justamente Affleck que parece destoar do restante do grupo. Sua atuação causa estranheza, não passa grande emoção, revela certa frieza e distanciamento, apenas justificável se o verdadeiro Tony Mendez também fosse um tanto inexpressivo. Affleck assim transmite muito mais segurança e qualidade atrás do que na frente das câmeras. John Goodman (‘Além da Eternidade’) que interpreta John Chamberse e Alan Arkin (‘Pequena Miss Sunshine’) que faz Lester Siegel, eternos coadjuvantes de filmes bacanas, mais uma vez não decepcionam e convencem na pele de produtores, porém a qualidade do filme não se encontra em um ou outro ponto, mas sim na força de seu conjunto. 

Se o curso da história não for mudado e o filme for consagrado na noite de amanhã, ‘Argo’ repetirá o feito de ‘Quem Quer Ser um Milionário’ em 2009, que ganhou em todos os sindicatos além do Globo de Ouro. Nada mal para alguém que já passou vergonha em uma fantasia de couro vermelho com chifre. 


Fonte: http://upload.wikimedia.org/


Nota: 9

Direção: Ben Affleck
Roteiro: Chris Terrio
Elenco: Ben Affleck, Bryan Cranston,Alan Arkin, John Goodman,Tate Donovan e Clea DuVall.

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