quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

Análise do Carnaval 2014

O resultado do Grupo Especial não trouxe grandes surpresas. O favoritismo da Viradouro era reconhecido entre críticos e na apuração foi brevemente ameaçado por Imperatriz e Vila e com mais afinco pela Grande Rio, que não resistiu após o terço final. A vermelho e branco simplesmente passeou na avenida com uma qualidade plástica impressionante que soube trabalhar tanto a ausência de luz assim como a luz do Sol. A harmonia e evolução da escola lembram os tempos de rolo compressor da Beija Flor. Durante seus ensaios na Amaral Peixoto, era notável a a força de seu chão e isso se refletiu na Sapucaí. 

Ao falar da Viradouro (e da Grande Rio) é necessário citar o uso da iluminação cênica, timidamente usada no ano passado e explorada com muito mais destaque agora. Goste ou não o fato é que é um processo, provavelmente, irreversível, assim como várias mudanças que o ocorreram ao longo do tempo e que geraram protestos e discussões, mas que se consolidaram. Particularmente acredito que ela favorece ao espetáculo se usada de forma coerente, consciente e controlada. Um exemplo de bom uso foram em sambas que falavam em 'trovoada' ou 'tempestade' nos quais o efeito de flash era usado ou quando havia uma passagem com o termo 'brilhou' com luz sendo apagada momentos antes para então acender nesta parte do samba. As luzes com cores específicas para valorizar determinada alegoria ou fantasia assim como a ausência de iluminação para sobressair roupas e carros fluorescentes também me agradaram e tais recursos já são empregados no festival de Parintins com bastante sucesso. Sim, é uma forma de espetáculo distinto, mais teatral do que o Carnaval, porém tudo passa pelo uso com parcimônia para que esse recurso não se sobressaia em relação ao sambista e aos desfilantes. Os efeitos de iluminação não podem ser protagonistas e sim suporte para contar a história, apresentar o enredo e valorizar a música e a festa.

Voltando a classificação, nas demais colocações me causou certa surpresa o desempenho do Salgueiro, que esperava-se não retornar nas campeãs, apesar de um desfile sem erros notórios não se destacou, assim como certa benevolência com a Tuiuti que era apontada como possível "adversária" da Porto da Pedra na briga contra os rebaixamento, mesmo após a escola de São Gonçalo ter deixado um buraco de mais de 100 metros, não mostrado na transmissão televisiva. 

Aliás a transmissão da Globo merece destaque. Por anos a fio a emissora priorizou o BBB e deixou de transmitir a primeira escola e por questões de estratégia comercial não passava os esquentas e terminava a transmissão muito antes da escola chegar ao final. Ou seja, o menos possível era exibido da escola e ainda por cima insistia com repórteres nos camarotes dando voz a pessoas sem qualquer importância para a festa. 

Quando enfim concorda em passar todas as escolas e desde o esquenta resolve ficar mais de 10 minutos com imagens da bateria no primeiro recuo cortando para algumas reportagens na arquibancada. A escola quase chegando ao meio da pista e nada. Espectadores quase foram 'premiados' com a não apresentação da comissão de frente. Fecha o pacote o som do samba muito baixo e áudio do estúdio vazando, problema resolvido, em grande parte, no segundo dia.De ponto positivo foram as reportagens com os trabalhadores dos barracões.

Para ser justo a transmissão da Band da Série Ouro também foi sofrível. Excessivas imagens áreas, poucas tomadas mostrando detalhes das fantasias e carros e apresentadores fora de sintonia dos comentaristas.

Retornando às agremiações, destaque positivo para o bom e, especialmente, emocionante desfile da Portela. Um bom conjunto de fantasias, alegorias corretas, samba bonito e evolução adequadas retomaram o orgulho que os componentes que estavam descontentes com o caótico (e menos despontuado do que merecia) desfile de 2023. 

Já os maus resultados de Mangueira e Tijuca resultaram em mudanças. Na verde e rosa a dupla de carnavalescos foi desligada pouco depois da apuração e no dia seguinte o Diretor de Carnaval da escola tijucana já não fazia mais parte dos planos da escola para 2025. A queda na qualidade plástica e problemas no acabamento (pelo menos nos carros e mais especificamente no carro da Alcione tocando trompete) após saída de Leandro Vieira da velha manga pode ter pesado na decisão. Já a azul e amarela tijuca, desde a escolha do samba já denotava um desfile burocrático e assim foi confirmado. 

Não se pode terminar esse texto sem mencionar a acesso de UPM ao grupo principal depois de 52 anos. A escola que nesse período passou por grupos de avaliação e série E (antiga sexta divisão do samba carioca) e teve 5 vices no grupo de acesso desde 2015 (alguns injustos) enfim chega a glória do Grupo Especial. Parabéns à Unidos de Padre Miguel e sua comunidade. 

quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

Sambas Enredo Série Ouro 2024


Diferentemente dos Sambas do Grupo Especial, para as escolas do grupo de acesso (Série Ouro) não escrivi análise de cada uma das obras, mas apenas as coloquei na mesma estrutura de prateleiras.

Clicando nos nomes das escolas você pode ouvir os sambas diretamente do canal da Liga RJ.

Segue também link para o álbum no Spotify.

quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

Análise dos Sambas Enredo Grupo Especial 2024



O Carnaval se avizinha e uma boa safra, com apenas uma obra de menor qualidade (na minha opinião) irão rasgar a avenida e disputar mais um título na Marquês de Sapucaí em meados de Fevereiro. Esse ano teremos uma reedição realizada pela Vila Isabel com o belo 'Gbala' de 1993 e outras 11 obras originais, e justamente o samba da azul e branco do bairro de Noel, juntamente com Viradouro e Grande Rio que destaco das demais como melhores hinos de 2024. Na outra ponta, o samba da Tijuca, me pareceu estremamente burocrático, sem criatividade, contudo insuficiente para ficar na última prateleira. 

Prateleiras

Primeira: Viradouro - Vila Isabel - Grande Rio

Segunda: Mangueira - Salgueiro - Mocidade - Portela 

Terceira: Imperatriz - Beija Flor - Paraíso do Tuiuti - Porto da Pedra

Quarta: Unidos da Tijuca

Quinta:Nenhum samba ficou nessa prateleira


Abaixo confira uma pequena análise de cada obra.
Para ouvir o samba clique no nome da escola no canal da Rio Carnaval no YouTube.

Ouça também no Spotify

Imperatriz Leopoldinense

Com a Sorte virada pra Lua segundo o Testamento da Cigana Esmeralda

Os primeiros versos são bons e lembram muito (muito mesmo) os sambas da Estácio e Grande Rio de 1993. À medida que avança acaba se tornando meio genérico. O falso refrão do meio é interessante, mas não chega a mudar esse aspecto. A segunda parte vai no mesmo embalo. O fruto da junção de dois sambas concorrentes rendeu uma letra que não me cativou ou empolgou e explica muito pouco do enredo. É simpático, mas apenas isso. 


Viradouro

Arroboboi Dangbé

Bela letra e com uma melodia mais empolgante do que alguns sambas recentes da escola. O refrão principal me parece um pouco pedante e reciclado, mas nada que fuja do comum. O refrão do meio é bem superior ao citado acima e destaco os belíssimos versos "Já sangrou um oceano pro seu rito incorporar / Num Brasil mais africano, outra areia, mesmo mar", uma poesia. Vander Pires tem cacife para levar muito bem a escola e o chão da vermelho e branco é impecável, mas a identidade criada entre Zé Paulo e a vermelho e branco foi muito singular e difícil de superar. 


Vila Isabel

Gbala – Viagem ao Templo da Criação

Não há muito o que se discutir com uma obra de Martinho da Vila. Uma belíssima letra e de um primor melódico com variações que te surpreendem e até podem confundir quem o escute pela primeira vez , mas em poucas passagens já são assimiladas. Outro grande trunfo é que se trata de um samba pra cima e empolga sem cair na galhofa gratuita. Um dos melhores sambas do grupo especial sem dúvida. O único senão é uma pausa excessiva (pausas me incomodam muito) entre os versos "No templo da criação / Lá os guias protetores do planeta".


Beija Flor

Um delírio de Carnaval na Maceió de Rás Gonguila

Penso que sofra do mesmo 'problema' que a letra da Imperatriz. É um bom samba, mas não cativa, não te chama. Longe de atrapalhar a harmonia da escola, é esquecível na mesma proporção. Tem um animado refrão do meio, porém é seguido de uma quebra no canto que me incomodou muito em "Gira-mundo feito (pausa, novamente ela) pião que 'gonguila' do jeito". O refrão principal chega a conversar com o piegas apelando para uma excessiva auto exaltação, que é comum, mas precisa ser equilibrada. 


Mangueira 

A Negra Voz do Amanhã

Após uma disputa entre mais de 20 sambas de uma safra que ficou aquém das expectativas, a verde e rosa escolheu seu hino novamente de autoria de Lequinho, que chegou à final, também novamente, com a parceria de Thiago Meiners. É uma bom samba, mas depois de "quando verde encontra o rosa toda preta é rainha" do ano passado, esperava-se algo similar em termos de genialidade. A fórmula está lá inclusive na tentativa de reeditar versos impactantes antes do refrão principal com "ela é Odara...", mas não foi dessa vez. O refrão em seguida também poderia ser melhor. O destaque fica para a ótima primeira parte e refrão do meio, "Toca tambor de crioula...".b

Obs: Não é o ideal, mas preciso expor que duas soluções apresentadas em sambas concorrentes poderiam enriquecer a letra. 

A parceria de Fábio Martins citava Alcione com o belo  "quem é mangueira sabe verde e rosa dá marrom" saindo do lugar comum de todas as demais letras.

Já a parceria de Thiago Meiners trouxe os tais versos impactantes, mas fortes do que a proposta do Lequinho: "quem veste e rosa é sentinela de erê". 


Grande Rio

Nosso Destino é ser Onça

É um bom samba, forte e com capacidade de segurar um desfile. Talvez não tenha uma fluidez que nos permita 'visualizar' o enredo, mas não é algo obrigatório, mas que aprecio. Possui trechos que propiciam boa interação com o público e uma boa resposta sempre colabora para uma evolução satisfatória. O conjunto é muito equilibrado, não tem um trecho encantador, mas não possui nenhum verso regular ou ruim, e essa homogeneidade qualificada me fazem colocar a obra na primeira prateleira. Impressionante como a escola consegue se afastar cada vez mais de sua imagem criada nos anos 2000 com enredos e sambas de qualidade duvidosa e tomou um rumo estremamente satisfatório.


Salgueiro

Hutukara

Não sou muito fã de usar termos mais modernos em sambas que, a princípio, não indicariam o seu uso, mas no caso do samba do Salgueiro eles encontram-se adequados. Não chega à excelência em termos de letra e melodia, apesar de passagens bem inspiradas como por exemplo em "antes da sua bandeira, meu vermelho deu o tom" e "Falar de amor enquanto a mata chora / É luta sem flecha, da boca pra fora". A mensagem é forte e importante, a atenção aos povos originários e o tratamento, indigno, dado em tempos recentes ganham uma importante voz. Com isso ele consegue nos ganhar. 


Paraíso do Tuiuti

Glória ao Almirante Negro!

João Cândido não passa muito anos sem ser citado em algum samba enredo e está ano ganha um enredo como tema principal. O samba da Tuiuti consegue sintetizar muito bem a história passando pelos principais elementos da vida do almirante negro lider da revolta da chibata. Estão lá a tomada da esquadra ("Meu nego, a esquadra foi rendida), a promessa de perdão e de atendimento às reivindicaçõe e em seguida descumpridas ("Nego, a anistia fez o flerte / Mas o Palácio do Catete / Preferiu a traição"), a prisão e o castigo ("novo cativeiro / Mais uma pá de cal") pelo qual João conseguiu sobreviver, entre outros. Apesar disso e de ser um bom samba, (eu) esperava um pouco mais, especialmente pelo fato de outras obras, que perpassavam essa mesma história serem  melhores, mas compre muito bem seu papel. 


Unidos da Tijuca

O Conto de Fados

Penso ser a obra mais fraca dessa boa safra de 2024 do grupo especial. Muito previsível e pouco inspirado. A simplicidade não é um problema, mas a falta de criatividade sim e um dos trechos que refletem isso é logo no refrão principal: "que o fado vira samba e o samba vira fado" e logo em seguida vem com "samba fadado / Ao mar do outro lado". A melodia também não ajuda muito. Até ameaça algo mais enérgico, mas não se mantém. Talvez nem o, encorporável Ito, consiga jogar para cima e chamar a galera. Parece prenunciar um desfile arrastado. 


Portela

Um Defeito de Cor

A azul e branco tenta se livrar do vexame protagonizado no ano passado no qual com um samba aquém do enredo e com um desfile caótico flertaram com Série Ouro. Para o desfile de 2024 elegeu para seu hino um samba bem equilibrado entre a emoção e empolgação, mesmo que falte aquele ponto de explosão. Destaco positivamente os trechos iniciais com "fina flor, jardim do gueto / Que exala o nosso afeto" assim como em "Em cada prece, em cada sonho, nêga / Eu te sinto, nêga / Seja onde for / Em cada canto, em cada sonho, nêgo / Eu te cuido, nêgo cá de onde estou".


Mocidade

Pede Caju que dou… Pé de Caju que dá…

De plena consciência de que o enredo não pedia um samba rebuscado e profundo, a Mocidade apostou na descontração de uma obra que tem tudo para contagiar o público na marquês de Sapucaí. A verde e branco promete agitar a passarela com um desfile leve, colorido e animado e contará com o microfone do sempre elétrico Zé Paulo Sierra, um de seus trunfos para o sucesso dessa interação com a plateia. O refrão "Meu caju, meu cajueiro / Pede um cheiro que eu dou / O puro suco do fruto do meu amor / É sensual esse delírio febril / A Mocidade é a cara do Brasil" conversa muito bem com público e foi muito bem recebido pela comunidade. 


Porto da Pedra

Lunário Perpétuo: A Profética do Saber Popular

Wantuir é a cara da Porto da Pedra e promete segurar com raça o samba que possui melodia superior a letra que é longe de ser ruim, mas também não transborda criatividade. Os versos longos podem cansar um pouco o que pode comprometer a harmonia e evolução, ainda mais sendo a escola que abrirá o desfile de Domingo. Contudo, ouvindo a gravação acredito que ele possa melhorar na avenida, acelerando um pouco a bateria para ganhar em energia. Destaque positivo para o refrão principal e o trecho "Quem acendeu as lamparinas desse céu? / No Brasil, os retirantes são os astros de cordel".


sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

Sambas Enredo Grupo Especial Rio de Janeiro 2023 - Análise

Após três anos sem publicar a análise dos sambas enredos retorno com elas em um ano de boas composições. Três destaques bem acima das demais e apenas uma pode ser classificada bem abaixo.

Na primeira prateleira temos Imperatriz, Tuiuti e Mangueira. A verde e rosa estaria um pouco atrás, mas não o suficiente para descer de prateleira. 

Na segunda prateleira contamos com Império Serrano, Viradouro e Mocidade.

Na terceira um grupo com Beija-Flor, Vila Isabel, Portela, Grande Rio e Tijuca. Não exatamente no mesmo nível l, mas não são tão bons para subir, tampouco ruins para descer. 

Na última Prateleira temos o solitário Salgueiro.

Ao final de cada letra confira uma análise breve de cada samba. Confira e deixe seu comentário. 

Para ouvir os sambas e ver a letra clique no nome de cada escola.

"Mogangueiro da Cara Preta"
Compositores: Cláudio Russo, Moacyr Luz, Gustavo Clarão, Júlio Alves, Alessandro Falcão, Pier Ubertini e W Correia.

Cadê o boi?
O mogangueiro, o mandingueiro de oyá
Meu tuiuti não tem medo de careta
Traz o boi da cara preta, do estado do Pará

Num mar de tempestade e ventania
Foi trazendo especiarias que o barco naufragou
Nós moscada, cravo, iguarias
No caminho para as Índias a história eternizou
O marinheiro se perdeu na madrugada
O mogangueiro correu para o igarapé
A curuminha entoou uma toada
Enquanto abria-se a flor do mururé
E nesse encontro entre o rio e o oceano
A grande ilha que cultiva o carimbó
Dizem que bichos ainda falam com humanos
Há muitos anos na Ilha de Marajó

É! Batuqueiro no samba de roda curimbó
Quero ver você cantar como canta o curió
Okê caboclo onde vai a piracema?
Rio acima segue o voo de uma juriti pepena

Há mão que modela a vida
No bairro Marajoara
E o búfalo que pisa
Esse chão do parauara
Chama o mestre damasceno
Pra entoar esta canção
Das cantigas da vovó
Do tempo da escravidão

É lá! É lá! É lá!
Canoeiro vive só morená
É lá! É lá! É lá!
Mas precisa de um xodó

Análise:
Um dos três melhores sambas desse ano no grupo especial. Uma letra que consegue abarcar diversos aspectos do enredo sem ser cansativo ou redundante. Acerta em não lançar mão de inflar com versos de auto exaltação que alongam o samba, mas que em boa parte das vezes nada dizem. Com nuances agradáveis em sua melodia, o hino da Tuiuti é muito gostoso de ouvir e repetir sem cansar. Os refrões pegam fácil e mantêm o ritmo no alto ao longo de toda a letra.


"Lugares de Arlindo"
Compositores: Sombrinha, Aluízio Machado, Carlos Senna, Carlitos Beto Br, Rubens Gordinho e Ambrósio Aurélio.

Acorde partideiro sem igual nascia então, um samba do seu jeito
Reluz feito Candeia, imortal o compositor, sambista perfeito
Levada de tantan, banjo e repique, poesia de um Cacique, malandragem deu lição
Inspiraçao de ventre ancestral, o dueto, a patente vem do fundo do quintal
Na boemia, no subúrbio, na viela o seu nome é favela, Madureira

Dagô, Dagô Saravá, Obá kaô
O brado que traz justiça, faz a vida recompor

Deixa, o fim da tristeza ainda há de chegar
O show do artista vai continuar
Morando nos sambas que você fez pra mim
Imperiano sim!
No verso que aflora
Giram os sonhos da porta-bandeira
O amor de Orfeu, melodia namora
Serrinha é teu canto pra vida inteira

Dagô, Dagô é a Lua de aruanda
A espada é de guerra e Ogum vence demanda

Cercado de axé, semeia o bem, o povo a cantar
Receba a gratidão, reizinho desse chão, aqui é o teu lugar
Uma porção de fé, o filho do verde esperança nos conduz
Zambi da Coroa Imperial
Abiaxé, Arlindo Cruz

Firma na palma da mão, tem alujá e agogô
Imperio de Jorge, oxê de Xangô
Laroyê Epa Babá
Há de roncar meu tambor
O verso de Arlindo, morada do amor

Análise:
Emotivo e alegre com raro equilíbrio, apesar de que poderia ser um pouco menos extenso, mas o que não permitiria realizar o acróstico (as primeiras letras de cada verso formam o nome Arlindo Domingos da Cruz Filho no sentido vertical). Alguns versos, principalmente na primeira parte, são um pouco longos, o que pode atrapalhar o canto. Destaque positivo para os belos versos "Giram os sonhos da porta-bandeira / O amor de Orfeu, melodia namora / Serrinha é teu canto pra vida inteira" e para a sempre empolgante interpretação de Ito Melodia que vai mais uma vez incorporar na avenida.


"Delírios de Um Paraíso Vermelho"
Compositores: Moysés Santiago, Líbero, Serginho do Porto, Celino Dias, Aldir Sena, Orlando Ambrósio, Gilmar Silva e Marquinho Bombeiro.

No toque sublime de amor
O profeta pintou o paraíso
Intenso vermelho que tinge a emoção
Tá no meu coração: Salgueiro
A vida em perfeita harmonia
A plena liberdade de viver
Mas a tentação que seduziu Adão e Eva
Fez o pecado florescer
Quem será pecador? Quem irá apontar?
Há um olhar de querer julgar
Se cada um tem seu jeito
Melhor conviver sem preconceito

No meu sonho de rei, quero tempo de paz
Guerra, fome e mazelas, nunca mais
A minha Academia anuncia
Da escuridão, raiou o dia

Bendita redenção!
Os excluídos libertando suas dores
Embarque, pro renascer dos seus valores
Basta! De violência e opressão!
Chega de intolerância
A luz da eternidade acende a chama
Festejando a igualdade que a felicidade emana
Resplandece a beleza do meu rubro paraíso
Proibido é proibir, aviso!
Pelas bênçãos de João
Nessa noite de magia
O meu samba é a revolução da alegria

Vermelha paixão salgueirense
Que invade a alma
Tá no sangue da gente
O morro desce na batida do tambor
Nesse delírio que o artista se inspirou!

Análise:
O samba do Salgueiro ocupa facilmente a prateleira mais baixa do grupo. Tenta surfar na onda dos sambas engajados dos últimos carnavais (Mangueira, Tuiuti, Beija Flor, etc), mas acaba acertando nas pérolas que a Mocidade trouxe alguns anos atrás em que falou de doação de órgãos e educação de trânsito. Rimas pouco inspiradas, simplistas até, como em "Proibido é proibir, aviso!", "Basta! De violência e opressão! Chega de intolerância" e "Se cada um tem seu jeito. Melhor conviver sem preconceito". A ideia poderia ser passada com uma letra mais rica, mais poética. Contribuiu para enfraquecer a obra os versos de auto exaltação, que podem ser bem usados, mas aqui parecem apenas como tapa buracos. 


"O aperreio do cabra que o excomungado tratou com má-querença e o santíssimo não deu guarida"
Compositores: Me Leva, Gabriel Coelho, Miguel da Imperatriz, Luiz Brinquinho, Antonio Crescente e Renne Barbosa.

Imperatriz veio contar para vocês
Uma história de assombrar
Tira sono mais de mês

Disse um cabra que nas bandas do Nordeste
Pilão deitado se achegava com o bando
Vinha no rifle de Corisco e Cansanção
Junto de Cirilo Antão, Virgulino no comando
Deus nos acuda, todo povo aperreado
A notícia corre céu e chão rachado
Rebuliço no olhar de um mamulengo
Era dia 28 e lagrimava o sereno

E foi-se então, adeus capitão!
No estouro do pipoco
Rola o quengo do caboclo
A sete palmos desse chão

Nos confins do submundo onde não existe inverno
Bandoleiro sem estrada pediu abrigo eterno
Atiçou o cão catraz, fez furdunço
E Satanás expulsou ele do inferno
O jagunço implorou um lugar no céu
Toda santaria se fez de bedel
Cabra macho excomungado de tocaia num balão
Nem rogando a Padim Ciço ele teve salvação

Pelos cantos do Sertão, vagueia, vagueia
Tal qual barro feito a mão misturado na areia

Quando a sanfona chora, mandacaru aflora
Bate zabumba tocando no meu coração
Leopoldinense, cangaceira é minha escola
Eis o destino do valente Lampião!

Análise:
Em termos de melodia este samba e da Tuiuti se aproximam pela inventividade e prazer em ouvir. São sambas acima de tudo gostosos de ouvir e contam com letras bem trabalhadas, cuidadosas que explicam seus enredos satisfatoriamente. As possibilidades de bossas são imensas e o público deve comprar o desfile. A escola tem cada vez mais se afastando da imagem construída durante a segunda metade da década de 90 e único dos anos 2000 e belas composições ajudam nessa ressignificação.


“O azul que vem do infinito”
Compositores: Wanderley Monteiro, Vinicius Ferreira, Rafael Gigante, Edmar Jr, Bira e Marcelāo.

Prazer novamente encontrar vocês
Ali pelas bandas de Oswaldo Cruz
Nosso mundo azul ganha vez
E aquela missão nos conduz
Eu, Rufino e Caetano
No linho, no pano, pescoço ocupado
Vencemos mesmo marginalizados
No bailar, uma porta bandeira
A nobreza desfila humildade
Natal nos guiou, deu Águia!
A Majestade

Abre a roda, malandro, que o samba chegou
Andei na Lapa, também já subi o Pelô
Macunaíma falou: Nas maravilhas do mar
A brisa me levou
Eis um Brasil de glórias que incandeia
A vaidade é um conto de areia
Eu vim me apresentar
Deixa a Portela passar!

Lendas e mistérios de um amor
Casa onde mora a profecia
Clara como a luz de um esplendor
Cem anos da mais bela poesia
Vivam esse sonho genuíno
De fazer valer nosso legado
Vejo um futuro mais lindo
Nas mãos de quem sabe o valor do passado
Ser Portela é tanto mais
Que nem cabe explicação
Basta ouvir os Baluartes
Pra chorar de emoção

Cavaco e viola, a velha linhagem
A bênção Monarco pra essa homenagem
O céu de Madureira é mais bonito
Te amo, Portela, além do infinito

Análise 
Em homenagem ao seu centenário confesso que espera algo a mais. Letra e melodia são boas, mas apenas isso. Acaba não atingindo a expectativa que despertara. As referências estão bem colocadas e não são apenas jogadas como poderia acontecer e que por vezes são utilizadas, mas se perdem num samba que não emociona como deveria ou empolga como poderia. Destaque positivo para a parte central: "Abre a roda, malandro, que o samba chegou (...) Deixa a Portela passar".


"Ô Zeca, o pagode onde é que é? Andei descalço, carroça e trem, procurando por Xerém, pra te ver, pra te abraçar, pra beber e batucar!" 
Compositores: Arlindinho Cruz, Igor Leal, Diogo Nogueira, Myngal, Mingauzinho e Gustavo Clarão.

Ō Zeca tu tá morando ondé?
Sai com meu povo a te procurar
Botei minha cerva na encruzilhada
Pra Moça da saia rodada e pro Ôme da capa
Cadê você?
É alvorada do seu padroeiro
Pra agradecer
Ao mensageiro de São Jorge Guerreiro
Tem patuá, pra proteger
E tem mandinga no velho engenho
Quem tem um santo poderoso que é Ogum?
Eu tenho

Nas bandas do Irajá, gelada no botequim
Assim vou vadiar até no gurufim
Se tem patota, Ibeji e ajeum
Salve Cosme e Damião, Doum!

Ê
Que bela quitanda, quitandinha de Erê
Seu balançê
Tem quitandinha de Erê

Passei procurando na feira
Em Del Castilho e na Tamarineira
E na gafieira, boêmios, Malandros
Pelos sete lados eu vou te cercando
Jessé! Jessé!
Fiz um pagode pra madrinha, Salve ela!
Saudei a voz da velha guarda da Portela
E lá na roça me flori no Carnaval
Zeca!
Levante o Copo para o povo brasileiro
Te encontrei nesse Terreiro
Xerém é o seu quintal

Deixa a Vida me levar
Onde o samba tem valor
Meu candiá
Encandiou
Sou Grande Rio carregado de axé
Minha gira girou na fé

Análise 
A homenagem ao Zeca tem uma 'vibe' distinta, por exemplo, daquela prestada pelo Império Serrano ao Arlindo Cruz. Uma letra menos rebuscada, porém mais visual. É possível construir mentalmente boa parte do samba o que deve facilitar a leitura do enredo e sua reprodução em alegorias e fantasias. O refrão do meio parece ser a parte mais interessante e agradável da letra. Mas como um todo é uma obra apropriada e que deve crescer na avenida com a presença do seu, imensamente carismático homenageado. 


"Nessa Festa, Eu Levo Fé!"
Compositores: Dinny da Vila, Kleber Cassino, Mano 10, Doc Santana e Marcos.

Viver, sentir prazer
Eu quero é mais me embriagar de tanto amor
Ver o sagrado e o profano em sintonia
Cair dentro da folia foi Deus baco que ensinou
O mundo canta forte, canta alto
Pelas ruas o cortejo
No batuque e na dança
Pedir, agradecer e celebrar, é o dom de superar
Renovando a esperança

Eu sou da Vila
Batizado no terreiro, São Jorge protetor
Salve o padroeiro
A voz do morro traz o samba na raíz
O ano inteiro sou festeiro e sou feliz

Seguindo em frente encarando o dia a dia
É Garantido e Caprichoso emocionar
Na explosão de cores, show de alegria
Água de cheiro, oferendas ao mar
Pulei fogueira, anarriê no arraiá brinquei
Na despedida também festejei
Renasce na saudade a nossa devoção
Vou respeitando a diversidade
Seja qual for a religião

O Rei Momo convidou minha Vila Isabel
Nessa festa eu levo fé
Sou herdeiro de Noel
No tambor da Swingueira
Toda a luz do meu axé: Evoé, evoé

Análise:
É um samba correto apenas. Os versos são um tanto previsíveis e a melodia não empolga. A letra não tem a força desejada e a falta de um momento de explosão compromete. Nem mesmo os refrões cumprem esse papel. São simples e sem carisma. Na avenida corre o risco de se tornar cansativo.


"Rosa Maria Egipcíaca"
Compositores: Cláudio Mattos, Dan Passos, Marco Moreno, Victor Rangel, Lucas Neves, Deco, Thiago Meiners, Valtinho Botafogo, Luis Anderson, Jefferson Oliveira e Bertolo.

Rosa Maria, menina flor
Rainha do espelho mar
Na pele do tambor
Pranto das dores que resistiu
Deságua no imenso Brasil
Sua luz incorporou

Distante me encontro das origens
Caminho onde o corpo foi prisão
Ouro que deixou as cicatrizes
Esperança foi vertigem
Minh‘alma a libertação

É vento na saia da preta courá
Na ginga do Acotundá... É ventania
Sete vozes guiaram minhas visões
Mistério, alucinações, feitiçaria

Me entrego a escrever a predição
Lágrima nas contas do rosário
Dádiva ao clamor do coração
Palavras de um preto relicário
A voz que cobre o cruzeiro
Reluz sobre nós no fim do calvário
Navega esperança à luz do encantado
Reflete o azul
Senti a alma daqueles, os mais oprimidos
Venci a heresia na fé dos divinos
A mais bela rosa aos pés do senhor
Candombes e batuques em cortejo
Eu sou a santa que o povo aclamou

Eis a flor do seu altar, sua fé em cada gesto
O amor em cada olhar dos filhos meus
No cantar da Viradouro, o meu samba é manifesto
Sou Rosa Maria, imagem de Deus

Eis a flor do seu altar, sua fé em cada gesto
O amor em cada olhar dos filhos meus
No cantar da Viradouro, o meu samba é manifesto
Imagem de Deus sou eu

Análise:
É perceptível o cuidado dos autores na escrita. Uma letra de delicadeza com as nuances de força que fazem ele explodir. Tem mantido uma tendência de longos sambas que sempre pode ser um risco em evolução e harmonia, seja por dificultar o canto dos componentes ou por permitir queda de ritmo no decorrer do desfile, somando-se a isso um grande número de alas coreografadas. Contudo a escola se empenha muito nos ensaios de canto o que acaba por equilibrar essa conta. Ainda assim acredito que ganharia se contasse com alguns versos a menos.


"As Áfricas que a Bahia canta"
Compositores: Lequinho, Junior Fionda, Gabriel Machado, Guilherme Sá e Paulinho Bandolim.

Oyá, oyá, oyá eô!
Ê matamba, dona da minha nação
Filha do amanhecer, carregada no dendê
Sou eu a flecha da evolução
Sou eu Mangueira, a flecha da evolução
Levo a cor, meu ilú é o tambor
Que tremeu Salvador, Bahia
Áfricas que recriei
Resistir é lei, arte é rebeldia
Coroada pelos cucumbis
Do quilombo às embaixadas
Com ganzás e xequerês fundei o meu país
Pelo som dos atabaques canta meu pais

Traz o padê de Exu
Pra mamãe Oxum toca o ijexá
Rua dos afoxés
Voz dos candomblés, xirê de orixá

Deusa do ilê aiye, do gueto
Meu cabelo black, negão, coroa de preto
Não foi em vão a luta de catendê
Sonho badauê, revolução didá
Candace de olodum, sou debalê de Ogum
Filhos de Gandhi, paz de Oxalá
Quando a alegria invade o Pelô
É carnaval, na pele o swing da cor
O meu timbau é força e poder
Por cada mulher de arerê
Liberta o batuque do canjerê

Eparrey oya! Eparrey mainha!
Quando o verde encontra o rosa, toda preta é rainha

O samba foi morar onde o Rio é mais baiano
O samba foi morar onde o Rio é mais baiano
Reina a ginga de iaiá na ladeira
No ilê de tia Fé, axé Mangueira!

Análise:
Peguei breve ranço do samba por ter derrotado a obra do meu primo na final, mas não demorou para reconhecer que de fato, o samba da minha verde e rosa é um dos melhores do carnaval. De letra que reflete extremo cuidado e atenção com a qual foi escrita que consegue conversar com seus inspirados refrões que tendem a ser dos mais cantados no carnaval com destaque para "Eparrey oya! Eparrey mainha! Quando o verde encontra o rosa, toda preta é rainha", carro chefe da letra. A melodia é absurdamente acertada e oferece à bateria uma gama de possibilidades de bossas. Uma crítica é que poderia ser um pouco menos longa. Receio que pode se tornar cansativo, ainda mais sendo a última escola de Domingo. Mas a posição costuma ser boa para a velha Manga. 


"Terra de Meu Céu, Estrelas de Meu Chão"
Compositores: Diego Nicolau, Richard Valença, Orlando Ambrosio, Gigi da Estiva, W. Correa, Leandro Budegas e Cabeça do Ajax

Senhor que fez da arte mundaréu
Em suas mãos Padre Miguel
Concebeu a criação
Plantou sua missão
Fez do sertão, barro tauá
Jardim no agreste floresceu
Regado ao firmamento de meu Deus
A lida pra viver, da lama renascer
Marias e Josés no céu que moram pés, raiz!
Fiel retrato desse meu país

Segue o carro de boi
O peão no barreiro
Ô rainha bonita
Sou teu rei cangaceiro
É a vida um xadrez
Pra honrar o legado
Quem foi que fez?
Foi Deus do barro

Molha Pedro minha terra
Chão de estrela de João
Traz Antônio minha amada
Padim Cícero Romão

Alumia o teu povo em procissão

Chega folia, chega cavalo marinho
Lindas Flores no caminho
O Nordeste coloriu
E de repente essa gente Independente
Faz da greda seu batente
Molda um pouco de Brasil
Amassa, deixa arder o massapé
Lá no meu Alto do Moura
Um pedacinho de fé
A massa, força de Mandacaru
Lá do meu Alto do Moura
Fiz brilhar Caruaru

Ê meu cardeá!
Sou a chama do braseiro
Nordestino, retirante da saudade
Mais um filho desse solo pioneiro
Um artista esculpindo a Mocidade

Análise:
É um samba interessante. Possui cinco versos no refrão de entrada quando normalmente são usados quatro e um refrão do meio com oito versos. E um terceiro com apenas um verso. Essa construção com mais refrões tem sido comum, mas não exatamente com essa construção. 

 
"É onda que vai... É onda que vem... Serei a Baía de Todos os Santos a se mirar no samba da minha terra"
Compositores: Julio Alves, Cláudio Russo e Tinga.

Oh! Mãe deste meu espelho d'água
O mar interior Tupinambá
Kirimurê das ondas mansas
Onde aprendi a navegar
No primeiro de novembro
Da real capitania
No olhar dos invasores
A cobiça, a maresia
Nesse eterno dois de julho
Sou caboclo rebelado
Terra que banho de luta
Pau Brasil, barril dobrado

Ilu Ayê toca o sino da igrejinha
Ilê Ayê atabaques e agogôs
Pra louvar meu Santo Antônio
Pra saudar meu pai Xangô (kaô meu pai kaô)

Beira de baía que desagua minha fé
Pode ser na missa, ou no xirê do candomblé
Marinheiro só, Marinheiro só
O leme do meu Saveiro
Quem conduz é o Pai Maior
Bota dendê e um cadinho de pimenta
Que a marujada vem provar o vatapá
É no mercado, na Lapinha ou na Ribeira
Se tem samba e capoeira
Camafeu também está
Odoyá Mamãe sereia
Orayeyeô Mamãe do Ouro
No encontro dessas águas, reluziu o meu tesouro
Opaí ó! É carnaval, onde a fantasia é eterna
Com a Tijuca, a paz vence a guerra

E viver será só festejar

Um banho de axé pra purificar
Um banho de axé nas águas de Oxalá
Sou tijucano rompendo quebrantos
Eu canto a Baía de todos os Santos

Análise:
A letra possui uma primeira parte mais inspirada e uma segunda mais previsível com versos finais muito pueris. "É carnaval, onde a fantasia é eterna. Com a Tijuca, a paz vence a guerra. E viver será só festejar". Os refrões não são empolgantes e a melodia acaba por deixar o samba pouco atraente. Pode até ser uma composição honesta, correta, mas sem brilho. 


"Brava Gente! O Grito dos Excluídos no Bicentenário da Independência"
Compositores: Léo do Piso, Beto Nega, Manolo, Diego Oliveira, Julio Assis e Diogo Rosa.

A revolução começa agora
Onde o povo fez história
E a escola não contou
Marco dos heróis e heroínas
Das batalhas genuínas
Do desquite do invasor
Naquele dois de julho, o Sol do triunfar
E os filhos desse chão a guerrear
O sangue do orgulho retinto e servil
Avermelhava as terras do Brasil

É! Vim cobrar igualdade, quero liberdade de expressão
É a rua pela vida, é a vida do irmão
Baixada em ato de rebelião

Desfila o chumbo da autocracia
A demagogia em setembro a marchar
Aos renegados barriga vazia
Progresso agracia quem tem pra bancar
Ordem é o mito do descaso
Que desconheço desde os tempos de Cabral
A lida, um canto, o direito
Por aqui o preconceito tem conceito estrutural
Pela mátria soberana, eis o povo no poder
São Marias e Joanas, os Brasis que eu quero ter

Deixa Nilópolis cantar!
Pela nossa independência, por cultura popular

Ô abram alas ao cordão dos excluídos
Que vão à luta e matam seus dragões
Além dos carnavais, o samba é que me faz
Subversivo Beija-Flor das multidões

Análise:
Inegavelmente o hino da Deusa da Passarela tem uma pegada que lembra muito a Mangueira de 2019 ("Onde o povo fez história. E a escola não contou. Marco dos heróis e heroínas") 
e 2020 e até mesmo a Beija Flor de 2018. Talvez menos poético e mais direto. O samba por si só é resistência e subversivo. Explora personagens que estão à margem da história oficial e os traz à tona e é sempre louvável quando se assume veementemente esse papel, o que não era uma realidade da azul e branco de Nilópolis que por diversas vezes propagandeou o sistema na época da Ditadura. Talvez, as diversas abordagens do tema nos últimos 4 anos possam comprometer o desfile, mas o samba, se não é brilhante, ao menos não comprometerá. 

terça-feira, 3 de maio de 2022

Resultados do Carnaval do Rio de Janeiro 2022 - Grupo Especial, Séries Ouro, Prata, Bronze, Grupo de Avaliação e Grupos B e C da LIVRES

Veja aqui todos os resultados de apurações do Carnaval 2022 

Grupo Especial (LIESA)

Série Ouro (LigaRJ)

Séries Prata, Bronze e Grupo de Avaliação (Superliga)

Grupos B e C (LIVRES).


Grupo Especial 

1. Acadêmicos do Grande Rio                          269,9 (Campeã)

2. Beija-Flor de Nilópolis                                 269,6

3. Unidos do Viradouro                                   269,5

4. Unidos de Vila Isabel                                  269,3

5. Portela                                                      269,2

6. Acadêmicos do Salgueiro                            268,3

7. Estação Primeira de Mangueira                    268,2

8. Mocidade Independente de Padre Miguel      268,2

9. Unidos da Tijuca                     267,9

10. Imperatriz Leopoldinense             266,9

11. Paraíso do Tuiuti                     266,4

12. São Clemente                     263,7 (Série Ouro em 2023)


Observações: 

Paraíso do Tuiuti penalizada em 0,2 por exceder o tempo máximo de desfile.  

Mocidade Independente de Padre Miguel penalizada em 0,3 por exceder o número máximo de alegorias.


Série Ouro 

1. Império Serrano         269,9 (Grupo Especial em 2023) 

2. Unidos do Porto da Pedra 269,5

3. União da Ilha do Governador 269,4

4. Inocentes de Belford Roxo 269,4

5. Unidos de Padre Miguel         269,3

6. Acadêmicos do Sossego         269,2

7. Unidos de Bangu         269,1

8. Estácio de Sá                 269,1

9. Império da Tijuca         269,1

10. Acadêmicos de Vigário Geral 268,9

11. Unidos da Ponte         268,9

12. Lins Imperial         268,6

13. Em Cima da Hora         268,5

14. Acadêmicos de Santa Cruz 268,1 (Série Prata em 2023)

15. Acadêmicos do Cubango 267,8 (Série Prata em 2023)


Série Prata

Sexta Feira 

1. Arranco             268,6 (Série Ouro em 2023)

2. Renascer de Jacarepaguá     268,4

3. Independentes de Olaria     268,1

4. Império da Uva             267,3

5. Sereno de Campo Grande     267,1

6. Independente da Praça da Bandeira     266,6

7. Arame de Ricardo             265,3

8. Botafogo Samba Clube             265,1

9. Raça Rubro Negra             264,8

10. Acadêmicos da Diversidade             264,8 (Série Bronze em 2023)

11. Difícil é o Nome             262,2 (Série Bronze em 2023)


Série Prata 

Sábado

1. União de Jacarepaguá  269,8 (Campeã Geral e Série Ouro em 2023)

2. Rocinha  269,5

3. União de Maricá  269,0

4. Jacarezinho  269,0

5. Caprichosos  268,7

6. União do Parque Curicica  268,5

7. Unidos da Vila Santa Tereza  268,1

8. Rosa de Ouro  267,8

9. Leão de Nova Iguaçu  267,3

10. União do Parque Acari  267,2

11. Alegria da Zona Sul  267,0

12. Acadêmicos da Abolição  266,9

13. Unidos da Villa Rica  265,7 (Série Bronze em 2023)

14. Unidos da Vila Kennedy  264,6 (Série Bronze em 2023)


Série Bronze 

1. Arrastão de Cascadura                   269,8 (Série Prata em 2023)

2. União Cruzmaltina                         269,6 (Série Prata em 2023)

3. Acadêmicos do Peixe                     269,5 (Série Prata em 2023)

4. Mocidade Unida do Santa Marta      268,7 (Série Prata em 2023)

5. Acadêmicos do Dendê                    267,4 (Série Prata em 2023)                    

6. Acadêmicos de Jacarepaguá           267,1 (Série Prata em 2023)

7. Guerreiros Tricolores                     267,0 

8. Vicente de Carvalho                      266,9

9. Acadêmicos de Jardim Bangu         266,8

10. Império Ricardense                     265,0

11. Unidos de Manguinhos                 264,3 (Grupo de Avaliação em 2023)

12. Império de Petrópolis*                       0 (Grupo de Avaliação em 2023)

Observações: 

*Não desfilou 


Grupo de Avaliação 

1. Flamanguaça         179,5 (Série Bronze em 2023)

2. Tubarão de Mesquita 179,4 (Série Bronze em 2023)

3. Concentra Imperial         179,3 (Série Bronze em 2023)

4. Mocidade Unida da Cidade de Deus 179,2 (Série Bronze em 2023)

5. Bangay                 178,8 (Série Bronze em 2023)

6. Unidos da Barra da Tijuca 178,6 (Série Bronze em 2023)

7. Gato de Bonsucesso 178,3 (Série Bronze em 2023)

8. Unidos do Cabral         178,2 (Série Bronze em 2023)

9. Alegria do Vilar         178,0

10. Império da Zona Norte         177,7

11. Unidos de Cosmos 177,1

12. Coroado de Jacarepaguá 177,0

13. Império de Nova Iguaçu 176,7

14. Coroa Imperial         176,7

15. Império de Brás de Pina 176,5

16. Camisa 10         174,2

17. Flor do Jardim Primavera 154,0

Observações: 

União Rio Minas, Balanço do Irajá, Acadêmicos da Pedra Branca e Colibri não desfilaram e, em teoria, não poderão se apresentar no ano de 2023, retornando ao grupo de avaliação em 2024. 


Grupo B da LIVRES

1. Acadêmicos do Engenho da Rainha 269,5 (Campeã)

2. Vizinha Faladeira         269,4

3. Unidos do Cabuçu         268,0

4. Unidos de Lucas         267,9

5. Unidos de São Cristóvão 266,5

6. Flor da Mina do Andaraí         265,9

7. Imperadores Rubro-Negros 265,5

8. Chatuba de Mesquita 265,2

9. Siri de Ramos         265,0

10. Feitiço Carioca         264,1(Grupo C da LIVRES em 2023)


Grupo C da LIVRES

1. Boi da Ilha do Governador 269 (Grupo B da LIVRES em 2023).

2. Mocidade do Porto         266,3

3. União do Vilar Carioca         264,7

Observações: 

A LIVRES (Liga Independente Verdadeira Raízes das Escolas de Samba) é uma liga de carnaval que organiza os Desfiles das Escolas de Samba dissidentes da LIESB realizados na Estrada Intendente Magalhães. Criada em 2019 teve como Campeã do seu Grupo B no Carnaval de 2020 a Tradição, que a garantiria, segundo informações da LIVRES, na atual Série Ouro, no entanto isso não ocorreu e a escola pleiteia na Justiça esse direito. A mesma informação foi divulgada em relação a Acadêmicos do Engenho da Rainha, campeã do Grupo B esse ano de 2022, de que ascenderá à Série Ouro em 2023, porém não há confirmação pela Liga RJ, que gerencia a Série Ouro. 

Fontes: G1, WIKIPEDIA e RADIO ARQUIBANCADA.