quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

Sambas Enredo Série Ouro 2024


Diferentemente dos Sambas do Grupo Especial, para as escolas do grupo de acesso (Série Ouro) não escrivi análise de cada uma das obras, mas apenas as coloquei na mesma estrutura de prateleiras.

Clicando nos nomes das escolas você pode ouvir os sambas diretamente do canal da Liga RJ.

Segue também link para o álbum no Spotify.

quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

Análise dos Sambas Enredo Grupo Especial 2024



O Carnaval se avizinha e uma boa safra, com apenas uma obra de menor qualidade (na minha opinião) irão rasgar a avenida e disputar mais um título na Marquês de Sapucaí em meados de Fevereiro. Esse ano teremos uma reedição realizada pela Vila Isabel com o belo 'Gbala' de 1993 e outras 11 obras originais, e justamente o samba da azul e branco do bairro de Noel, juntamente com Viradouro e Grande Rio que destaco das demais como melhores hinos de 2024. Na outra ponta, o samba da Tijuca, me pareceu estremamente burocrático, sem criatividade, contudo insuficiente para ficar na última prateleira. 

Prateleiras

Primeira: Viradouro - Vila Isabel - Grande Rio

Segunda: Mangueira - Salgueiro - Mocidade - Portela 

Terceira: Imperatriz - Beija Flor - Paraíso do Tuiuti - Porto da Pedra

Quarta: Unidos da Tijuca

Quinta:Nenhum samba ficou nessa prateleira


Abaixo confira uma pequena análise de cada obra.
Para ouvir o samba clique no nome da escola no canal da Rio Carnaval no YouTube.

Ouça também no Spotify

Imperatriz Leopoldinense

Com a Sorte virada pra Lua segundo o Testamento da Cigana Esmeralda

Os primeiros versos são bons e lembram muito (muito mesmo) os sambas da Estácio e Grande Rio de 1993. À medida que avança acaba se tornando meio genérico. O falso refrão do meio é interessante, mas não chega a mudar esse aspecto. A segunda parte vai no mesmo embalo. O fruto da junção de dois sambas concorrentes rendeu uma letra que não me cativou ou empolgou e explica muito pouco do enredo. É simpático, mas apenas isso. 


Viradouro

Arroboboi Dangbé

Bela letra e com uma melodia mais empolgante do que alguns sambas recentes da escola. O refrão principal me parece um pouco pedante e reciclado, mas nada que fuja do comum. O refrão do meio é bem superior ao citado acima e destaco os belíssimos versos "Já sangrou um oceano pro seu rito incorporar / Num Brasil mais africano, outra areia, mesmo mar", uma poesia. Vander Pires tem cacife para levar muito bem a escola e o chão da vermelho e branco é impecável, mas a identidade criada entre Zé Paulo e a vermelho e branco foi muito singular e difícil de superar. 


Vila Isabel

Gbala – Viagem ao Templo da Criação

Não há muito o que se discutir com uma obra de Martinho da Vila. Uma belíssima letra e de um primor melódico com variações que te surpreendem e até podem confundir quem o escute pela primeira vez , mas em poucas passagens já são assimiladas. Outro grande trunfo é que se trata de um samba pra cima e empolga sem cair na galhofa gratuita. Um dos melhores sambas do grupo especial sem dúvida. O único senão é uma pausa excessiva (pausas me incomodam muito) entre os versos "No templo da criação / Lá os guias protetores do planeta".


Beija Flor

Um delírio de Carnaval na Maceió de Rás Gonguila

Penso que sofra do mesmo 'problema' que a letra da Imperatriz. É um bom samba, mas não cativa, não te chama. Longe de atrapalhar a harmonia da escola, é esquecível na mesma proporção. Tem um animado refrão do meio, porém é seguido de uma quebra no canto que me incomodou muito em "Gira-mundo feito (pausa, novamente ela) pião que 'gonguila' do jeito". O refrão principal chega a conversar com o piegas apelando para uma excessiva auto exaltação, que é comum, mas precisa ser equilibrada. 


Mangueira 

A Negra Voz do Amanhã

Após uma disputa entre mais de 20 sambas de uma safra que ficou aquém das expectativas, a verde e rosa escolheu seu hino novamente de autoria de Lequinho, que chegou à final, também novamente, com a parceria de Thiago Meiners. É uma bom samba, mas depois de "quando verde encontra o rosa toda preta é rainha" do ano passado, esperava-se algo similar em termos de genialidade. A fórmula está lá inclusive na tentativa de reeditar versos impactantes antes do refrão principal com "ela é Odara...", mas não foi dessa vez. O refrão em seguida também poderia ser melhor. O destaque fica para a ótima primeira parte e refrão do meio, "Toca tambor de crioula...".b

Obs: Não é o ideal, mas preciso expor que duas soluções apresentadas em sambas concorrentes poderiam enriquecer a letra. 

A parceria de Fábio Martins citava Alcione com o belo  "quem é mangueira sabe verde e rosa dá marrom" saindo do lugar comum de todas as demais letras.

Já a parceria de Thiago Meiners trouxe os tais versos impactantes, mas fortes do que a proposta do Lequinho: "quem veste e rosa é sentinela de erê". 


Grande Rio

Nosso Destino é ser Onça

É um bom samba, forte e com capacidade de segurar um desfile. Talvez não tenha uma fluidez que nos permita 'visualizar' o enredo, mas não é algo obrigatório, mas que aprecio. Possui trechos que propiciam boa interação com o público e uma boa resposta sempre colabora para uma evolução satisfatória. O conjunto é muito equilibrado, não tem um trecho encantador, mas não possui nenhum verso regular ou ruim, e essa homogeneidade qualificada me fazem colocar a obra na primeira prateleira. Impressionante como a escola consegue se afastar cada vez mais de sua imagem criada nos anos 2000 com enredos e sambas de qualidade duvidosa e tomou um rumo estremamente satisfatório.


Salgueiro

Hutukara

Não sou muito fã de usar termos mais modernos em sambas que, a princípio, não indicariam o seu uso, mas no caso do samba do Salgueiro eles encontram-se adequados. Não chega à excelência em termos de letra e melodia, apesar de passagens bem inspiradas como por exemplo em "antes da sua bandeira, meu vermelho deu o tom" e "Falar de amor enquanto a mata chora / É luta sem flecha, da boca pra fora". A mensagem é forte e importante, a atenção aos povos originários e o tratamento, indigno, dado em tempos recentes ganham uma importante voz. Com isso ele consegue nos ganhar. 


Paraíso do Tuiuti

Glória ao Almirante Negro!

João Cândido não passa muito anos sem ser citado em algum samba enredo e está ano ganha um enredo como tema principal. O samba da Tuiuti consegue sintetizar muito bem a história passando pelos principais elementos da vida do almirante negro lider da revolta da chibata. Estão lá a tomada da esquadra ("Meu nego, a esquadra foi rendida), a promessa de perdão e de atendimento às reivindicaçõe e em seguida descumpridas ("Nego, a anistia fez o flerte / Mas o Palácio do Catete / Preferiu a traição"), a prisão e o castigo ("novo cativeiro / Mais uma pá de cal") pelo qual João conseguiu sobreviver, entre outros. Apesar disso e de ser um bom samba, (eu) esperava um pouco mais, especialmente pelo fato de outras obras, que perpassavam essa mesma história serem  melhores, mas compre muito bem seu papel. 


Unidos da Tijuca

O Conto de Fados

Penso ser a obra mais fraca dessa boa safra de 2024 do grupo especial. Muito previsível e pouco inspirado. A simplicidade não é um problema, mas a falta de criatividade sim e um dos trechos que refletem isso é logo no refrão principal: "que o fado vira samba e o samba vira fado" e logo em seguida vem com "samba fadado / Ao mar do outro lado". A melodia também não ajuda muito. Até ameaça algo mais enérgico, mas não se mantém. Talvez nem o, encorporável Ito, consiga jogar para cima e chamar a galera. Parece prenunciar um desfile arrastado. 


Portela

Um Defeito de Cor

A azul e branco tenta se livrar do vexame protagonizado no ano passado no qual com um samba aquém do enredo e com um desfile caótico flertaram com Série Ouro. Para o desfile de 2024 elegeu para seu hino um samba bem equilibrado entre a emoção e empolgação, mesmo que falte aquele ponto de explosão. Destaco positivamente os trechos iniciais com "fina flor, jardim do gueto / Que exala o nosso afeto" assim como em "Em cada prece, em cada sonho, nêga / Eu te sinto, nêga / Seja onde for / Em cada canto, em cada sonho, nêgo / Eu te cuido, nêgo cá de onde estou".


Mocidade

Pede Caju que dou… Pé de Caju que dá…

De plena consciência de que o enredo não pedia um samba rebuscado e profundo, a Mocidade apostou na descontração de uma obra que tem tudo para contagiar o público na marquês de Sapucaí. A verde e branco promete agitar a passarela com um desfile leve, colorido e animado e contará com o microfone do sempre elétrico Zé Paulo Sierra, um de seus trunfos para o sucesso dessa interação com a plateia. O refrão "Meu caju, meu cajueiro / Pede um cheiro que eu dou / O puro suco do fruto do meu amor / É sensual esse delírio febril / A Mocidade é a cara do Brasil" conversa muito bem com público e foi muito bem recebido pela comunidade. 


Porto da Pedra

Lunário Perpétuo: A Profética do Saber Popular

Wantuir é a cara da Porto da Pedra e promete segurar com raça o samba que possui melodia superior a letra que é longe de ser ruim, mas também não transborda criatividade. Os versos longos podem cansar um pouco o que pode comprometer a harmonia e evolução, ainda mais sendo a escola que abrirá o desfile de Domingo. Contudo, ouvindo a gravação acredito que ele possa melhorar na avenida, acelerando um pouco a bateria para ganhar em energia. Destaque positivo para o refrão principal e o trecho "Quem acendeu as lamparinas desse céu? / No Brasil, os retirantes são os astros de cordel".