segunda-feira, 23 de setembro de 2019

Capitão Fantástico (2016)

Capitão Fantástico é um filme de 2016, que aportou a pouco na Netflix, com Viggo Mortensen (Senhor dos Anéis) como protagonista no papel de um pai de seis filhos que vive na floresta e os cria subsistindo de modo quase exclusivo do que podem caçar e colher no local. Sua rotina é a de treinar os filhos em caça, escalada, debater filosofia e política e principalmente e ensinar a odiar a sociedade consumista e narcisista que existe " fora" Um acontecimento os obriga a abandonar seu estilo de vida e encarar o mundo.

O que poderia descambar para uma comédia vazia, mostrando as contradições entre os mundos e situações constrangedoras que resultaram desse contato, aqui geram reflexão e justos questionamentos. Refletem uma sociedade desenvolvida, mas que traduz suas interações através de consumo, promove a desigualdade como objetivo social, conserva ritos para se enquadrar em um ideário coletivo e se ilude em sua própria falta de cultura.

Apesar das discussões levantadas não é um filme denso, difícil ou cansativo. As bandeiras levantadas não soam forçadas, apesar de incomodar alguns, e se inserem na trama de modo lógico.

As escolhas, por vezes duvidosas, poderiam carregar julgamentos, porém a empatia gerada faz refletir.

O final poderia ser mais libertador, contudo, toma um caminho mais correto e "responsável", todavia sem deixar de promover um quê de subversão que nos faz falta em dados momentos.

domingo, 22 de setembro de 2019

Rei Leão (2019)

"Nants ingonyama bagithi Baba..."

25 depois destes estrofes em Zulu darem início a uma das mais sucedidas animações da Disney, a saga de Simba retornou aos cinemas sob a alcunha errônea de 'live action', quando na verdade trata-se de uma animação ultra realista.

O trailer lançado em Novembro de 2018, que fez muita gente se emocionar, dava uma amostra da qualidade da produção, indicava que algo grande estava por vir e que mais uma vez a Disney havia acertado a mão. Retorno financeiro garantido com muitos milhões de lucro para o cofre, já bem cheio, da empresa do Mickey.

"Aí vem o leão, pai" é cantada a plenos pulmões enquanto somos apresentados  à savana africana, seu belo nascer do sol e sua rica fauna. E vem trazendo consigo uma superprodução de cerca de US$ 260 milhões e que lucrou em todo mundo mais de US$ 1,5 bilhões, superando a animação de 1994 que ficou pouco abaixo de US$ 1 bilhão atualizados, o colocando como segunda bilheteria do ano e sétima maior da história.

A tecnologia empregada para tornar reais as belas paisagens do filme original e seus inesquecíveis personagens, surgida em Mogli, foi aperfeiçoada e levará produções do gênero a um novo patamar. Com a introdução da Realidade Virtual o diretor Jon Favreau e o diretor de Fotografia Caleb Deschanel tiveram a sua disposição um set virtual no qual puderam trabalhar como em um filme convencional sem no entanto saírem da sala ou ao menos encostar em uma câmera. Objetos de cena trocados de posição, mudanças de luz, zoom, alterações de lente entre outras ações foram concretizadas com um simples movimento ou apertando um botão apenas. Algo que nos lembra o que James Cameron fez em "Avatar", no qual editou o filme em um galpão com um tablet que lhe dava os ângulos de câmera desejados para cada cena. O princípio é o mesmo, porém a tecnologia empregada e as ferramentas disponibilizadas avançaram exponencialmente.

A proeza tecnológica empregada entrega personagens animais e ambiente local com um nível de precisão singular. A não ser pelas falas dos, o espectador poderia ser levado a crer que se trata de um documentário. Simplesmente não há diferença. Você acredita plenamente que aquelas pedras, árvores, lagos sejam reais e que a câmera passeia por entre gnus, zebras, girafas, elefantes, pássaros e claro, leões.

Contudo essa escolha pelo realismo extremo, que de um lado torna o filme fantástico é o que justamente acaba por não permitir cativar o público como a animação clássica fez e faz.

Desenhos animados lançam mão de certa maximização das expressões faciais para poder passar a emoção necessária. Quando animais são retratados, estes ganham expressões humanas com finalidade semelhante assim como de gerar empatia com o público. A decisão de investir na representação realística não coincide com tal estratégia sob o risco de o resultado descambar para o piegas. O único caminho é que tais emoções fossem passadas pela dublagem e pela expressão corporal dos animais, sendo este último de sutil percepção.

A dublagem merece ser destacada. Condição 'sine qua non' para assistir a película ao lado de meu pequeno Simba, tive de encarar uma sessão em português. Para animações até tendo a preferir assim. As perdas são mínimas e a dublagem brasileira é quase sempre certeira, porém rompendo com o tradicional sucesso, não sei precisar se por problemas na sala ou algum deslize técnico, a camada de som da dublagem brasileira é absurdamente destacada das demais camadas ambiente. É possível identificar claramente que se trata de algo sobreposto chegando a causar certo desconforto. Quanto às vozes escolhidas, criticadas por boa parte do público, não chega a comprometer o resultado, apesar do fato de a primeira aparição de Simba  crescido, cantarolando ao lado de Timão e Pumba despertar uma reação de susto e decepção passando rapidamente à raiva e revolta, levando inclusive a gritos de reprovação na sala de cinema. Sem entender ao certo se o tom da voz se tratava de uma brincadeira, o fato é que ao longo do filme a voz de Ícaro Silva acaba se acertando e entrega um resultado mais ou menos na média do restante do elenco.

O resultado final é um filme que merece ser visto. Que encanta pela perfeição gráfica e pela história que continua ótima, mas inegavelmente carece da emoção e empatia que o original tinha de sobra. Não chega a ser um filme frio, pois apresenta bons momentos de medo proporcionados pela representação de Scar e das hienas, divertidos nos alívios cômicos com Timão e Pumba e de ação com a luta de Simba no seu retorno ao trono. Mas se visto com expectativa de sentir algo semelhante ao proporcionado pela fita VHS verde, pode sim decepcionar. A  sugestão é ir sem esse desejo, guarde a emoção anterior consigo e desfrute do espetáculo visual que verá, com isso sua experiência será muito proveitosa.