domingo, 21 de novembro de 2010

Tropa de Elite 2 - O Inimigo Agora é outro.




Caveirão 2 - O retorno.


Em minha crítica do filme 'O Segredo de Seus Olhos' escrevi que que o cinema argentino se consolidava entre público e críticas internacionais por ser mais maduro e não ficar restrito a caveirões e tiros e se propor a aprofundar-se.


Eis que a continuação do apenas bom (mas vazio) 'Tropa de Elite' apresenta uma perspectiva interessante ao cinema brasileiro e se não chega a alterar minha concepção sobre o cinema nacional, pelo menos me deixa bastante animado.


Enquanto o primeiro filme apela para as cenas de violência, desperdiça o potencial crítico da película em uma discussão muito rasa sobre o financiamento (real) do tráfico pela classe média e explora muito pouco o íntimo de cada personagem. Sua continuação aumenta a carga dramática, melhora as cenas de ação, aprofunda as relações humanas e propõe uma discussão política mais ampla e sustentável do que no primeiro. Neste segundo filme o diretor consegue transferir o problema da esfera da violência para o meio político.


No primeiro filme, Capitão Nascimento sobe a favela para limpar a sujeira que os playboizinhos fazem. Neste segundo ele se pergunta a quem realmente a seu trabalho favorece e a quais interesses ele está servindo. Essa dúvida não vai apenas pairar sobre a cabeça do personagem mas de todos (ou pelo menos assim deveria) que veem o filme.


A boa montagem favorece que o desenrolar do fatos se descortinem ao público de modo fácil e ágil não deixando a história ficar chata. Muito pelo contrário, o ritmo do filme se mantém tenso do inicio ao fim. O encadeamento dos acontecimentos e o modo como perpassam o lado pessoal do Capitão Nascimento seguram eficientemente a atenção do público. Um grande mérito da película é que através desta história consegue levar a compreensão dos espectadores todo o esquema que hoje desencadeia na divisão da cidade em áreas dominadas por tráfico e áreas dominadas por milícia e o quanto as últimas podem ser mais nefastas do que os primeiros.


O filme começa com um, ainda, Capitão Nascimento crendo que seu trabalho estaria minando o sistema e que diante da 'adversidade' de 'cair para cima' ao ser retirado do comando do BOPE e ser levado para a Secretaria de Estado de Segurança, poderia fazer muito mais em pró de seu plano, fortalecendo o Batalhão e o tornando, como dito no próprio filme, em uma máquina de guerra.


Aos poucos ele vai percebendo que as investidas contra os 'marginais' são na verdade parte de um plano em maior que envolve a garantia de votos pelo controle de regiões antes dominadas pelo tráfico e que agora serão entregues aos grupos armados conhecidos como milícia (que em seu início eram chamados de mineira).


Sua credulidade cai totalmente por terra quando dois fatos importantes atingem em cheio a sua vida e a partir dai ele trava uma batalha pessoal para "foder o sistema". E como 'missão dada é missão cumprida', Capitão Nascimento parte com tudo pra cima dos corruptos.


Apesar de no começo do filme o diretor exagerar em falar que o BOPE consegui desarticular o tráfico do Rio e que o nascimento das milícias se deve substancialmente ao trabalho do Batalhão, quase tudo no filme beira mais à realidade do que a ficção, diferente do que sugere a mensagem inicial do filme. São diversas as passagens em que a realidade do Rio é transmitida para a tela grande sem maquiagem alguma, como por exemplo quando um miliciano assassina uma pessoa sem nem abrir a porta do carro ou quando o BOPE mata quase todo o bando de traficantes do Tanque ou mesmo nos depoimentos que mudavam da noite para o dia sob pressão da milícia. 


Também não é ficção a vista grossa e apoio oferecido por governantes às milícias em troca de votos e publicidade sob uma suposta paz nessas comunidades. Esta aparente boa ação que as milícias vieram a realizar, é desfeita a todo momento nos quais são revelados as estratégias e ações criminosas promovidas pelo grupo criminoso. Outro momento em que a realidade anda lado a lado com a 'ficção' é mostrando a consequencia  da CPI da Milícias que protagonizou prisões de políticos, policiais e implicou em grande número de mortes de supostos envolvidos em todo o esquema. 


O termo máfia usado pelo personagem Fraga no filme cai como uma luva e assim como o similar europeu, o esquema aqui se rearticula e sobrevive sob as adversidades momentâneas, afinal o que interessa no final é dinheiro, poder e votos, e em entorno destes os mais diversos grupos sempre chegam a denominador comum. 


A primorosa sequencia final do filme é um soco no estômago da classe média, dos playboys e da burguesia, que no primeiro filme aplaudiam quando os caveiras usavam 'o saco' nos marginais das favelas. As palavras de Capitão Nascimento soam como uma estrofe de uma música de Renato Russo onde destila verdades insólitas e uma quase desesperança de que algo possa dar certo nesse pedaço de terra que chamamos de lar. Também merece destaque a cena em que Nascimento 'desce' a porrada em um político corrupto.  Depois dela ficamos com uma agradável sensação de alma lavada. Quantos não queriam estar no lugar do Capitão e a fila de políticos seria grande.


Alguns me perguntam o porque do filme não ter dado nenhum problema até agora, pelas inúmeras verdades que filme joga no ar? Eu respondo que primeiro porque a classe política não tem medo da nossa população, pois sabe que o poder de articulação e de congregação entorno de interesses comuns é mínimo. Mérito de nosso sistema capitalista que dignifica a busca individual pelo sucesso em detrimento ao bem público, geral, coletivo. Segundo porque as pessoas que tem o poder de mudar alguma coisa, cujo poder de barganha política é realmente substanciai, se não está envolvida neste esquema, sai do cinema e vai tomar um chop na esquina e retorna ao seu mundo de condomínios fechados, colégios particulares, academias e de TV a cabo (a de verdade) e não a 'gatonet' do filme.  


É... não é apenas o sistema que é foda. As pessoas também o são.










Ficha Técnica
Direção: José Padilha
Roteiro: José Padilha e Bráulio Mantovani
Argumento: José Padilha, Bráulio Mantovani e Rodrigo Pimentel
Produção: José Padilha e Marcos Prado
Produção Executiva: James D'Arcy e Leonardo Edde
Direção de Fotografia e Câmera: Lula Carvalho
Direção de Arte: Tiago Marques Teixeira
Figurino: Claudia Kopke
Maquiagem: Martin Macías Trujillo
Efeitos Especiais: Bruno Van Zeebroeck, Keith Woulard, Rene Diamante e William Boggs
Som direto: Leandro Lima
Montagem: Daniel Rezende
Edição de som: Alessandro Laroca
Mixagem: Armando Torres Jr.
Trilha sonora: Pedro Bromfman
Site Oficial: tropa2.com.br

Elenco
Wagner Moura - Nascimento
Irandhir Santos - Fraga
André Ramiro - Mathias
Pedro Van Held - Rafael
Maria Ribeiro - Rosane
Sandro Rocha - Russo
Milhem Cortaz - Fábio
Tainá Müller - Clara
Seu Jorge - Beirada
André Mattos - Fortunato
Fabrício Boliveira - Marreco
Emílio Orcillo Netto - Valmir
Jovem Cerebral - Braço

Bruno D´Elia - Azevedo


Nota: 9,5

5 comentários:

  1. Cara: excelente crítica! Como eu tinha dito a você: a cena do Cel. Nascimento Vs. Político Brasileiro é quase um anestésico; ainda que seja violenta representa o sentimento da população brasileira frente aos constantes abusos destes que deveriam representar os seus eleitores.
    Que a mensagem passada pele filme traga mais do que a reflexão do povo brasileiro.

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  2. Grande Allan,
    Eu acho que o filme é uma autocrítica do primeiro. O primeiro era um tipo de Rambo, o Capitão Nascimento um tipo de heroi da direita. Criticava o sitema, mas sob o prisma de um agente do Estado chateado porque os governantes não cumpriam o que prometiam... A denuncia em Rambo era que o Estado havia abandonado seus herois depois de fazerem seu "serviço" no Vietnan. Voltava sem o devido reconhecimento. O capitão nascimento no filme I é isso, um agente do Estado fascista traido por não ser reconhecido. Mata pobre como mandam, mas por causa de uns "esquerdinhas" (leia intelectuais maconheiros), não são reconhecidos enquanto herois. O segundo é mais interessante, realmente. no meu ponto de vista, absorveram as críticas e resolveram criticar o lado certo.
    Suas postagens estão cada vez mais interessantes... Um abraço,
    Felipe Deveza

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  3. Uma frase, mesmo que não dita define o que de fato precisamos gritar: "Tropa de Elite 2: O inimigo agora (e antes também) é o CAPITALISMO!

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  4. O problema é o COMUNISMO , que adora o CAOS !!
    Que ensinou as táticas de guerrilha para a bandidagem, que deu moral para eles, que instituiu o coitadismo pra quem não merece e usou este sistema caótico para subir ao poder (e continuar o caos) !!
    Não é só playboy que fomenta o tráfico de drogas, tá cheio de comunista-bicho-grilo que também faz a farra dos traficantes !!
    hipocrisia tem limite !!

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  5. ESSE FILME NOS MOSTRA A REALIDADE DE HOJE, AS ULTIMAS FRASES DO NASCIMENTO FOI "QUEM VC ACHA QUE SUSTENTA TUDO ISSO??? ÉÉ...E CUSTA CARO..MUITO CARO..O SISTEMA É MUITO MAIOR QUE TODOS PENSAM.NÃO É A TOA QUE OS POLICIAS, MILICIANOS E TRAFICANTES MATAM TANTA GENTE NESSA FAVELA, N É A TOA QUE EXISTE FAVELA, N É TANTO QUE ACONTECE TANTO ESCÂNDALO EM BRASÍLIA, ENTRA GOVERNO, SAI GOVERNO E A CORRUPÇÃO CONTINUA, E PRA MUDAR AS COISAS AINDA VAI LEVAR MUITO TEMPO ! "

    GENTE, PRESTA ATENÇÃO, O GOVERNO COBRA CONTA DA GENTE TODO MÊS, HÁ MILICIAS QUE EXPLORAM LUGARES COMO AS FAVELAS, PARA CONSEGUIR UM LUCRO EM CIMA DO POVO, OS IMPOSTOS HOJE EM DIA ESTÃO MAIORES, VAMOS ADERIR ESSA MANISFESTAÇÃO, "PREÇO JUSTO DO FELIPE NETO """QUE ESTÁ FALANDO UM POUCO DO QUE NÓS CONSUMIDORES, HABITANTES DESSA TERRA, O BRASIL ESTÁ PASSANDO ->http://www.precojustoja.com.br/

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