terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Mais um Ano de Lama e Morte

Imagem área mostra devastação em área de Nova Friburgo 
(Foto: Marino Azevedo/Governo do Estado do Rio de Janeiro



Mais um Ano

Depois de um ano, no Morro do Bumba, 3.200 famílias que foram desabrigadas por conta do desabamento então ocorrido, encontram-se hoje morando em casas com o aluguel pago pela Prefeitura de Niterói. Outras 800 ainda esperam receber o benefício.

Há um ano, as chuvas também fizeram vítimas em outras regiões do Rio de Janeiro. Desabamentos no Morro do Carioca e na Ilha Grande, ambos em Angra dos Reis e no Sul Fluminense que juntamente com o desastre no Morro do Bumba somaram 220 mortes. Mais de duas centenas de pessoas que não contarão com remédio oferecido pela Prefeitura. Para estas, o descaso custou a vida.

Um ano e tudo se repete. Novamente a chuva, os deslizamentos, as mortes, os desabrigados, as autoridades procurando bodes expiatórios e as reportagens especiais. Tudo se repete e nada é feito. E desta vez, dentre as mais de 600 mortes até agora, não temos apenas 'favelados' que construíram seus barracos em área de risco. Temos ricos empresários, donos de grandes fazendas e sítios e proprietários de aras em meio aos mortos, feridos e desabrigados. Será que, assim como nos demais anos, as autoridades vão culpar os moradores que insistem em construir em encostas? Será que a culpa vai mais uma vez recair sobre quem está soterrado?

Como dito pela presidente Dilma, a ocupação em áreas de risco e regra no Brasil e não exceção e muito pouco foi e é feito para reverter o quadro. Fica difícil culpabilizar a população quando não se tem estratégias de remoção eficazes. Ou quando existem, são incipientes e não atendem a demanda e as necessidades da população a ser removida, e contam com a desconfiança justificada das pessoas. Obras de dragagem e contenção são raras e predominantemente mal executadas. Em Niterói, por exemplo, mais precisamente na Estrada da Cachoeira, as obras de contenção só iniciaram em Dezembro, próximo ao período de chuvas. Tiveram todo o outono e inverno, mais secos, para realizar as obras, mas preferiram colocar os trabalhadores fritando sob sol do meio dia de verão e contar com a sorte de fortes chuvas não acontecerem.

Se a culpa não será da população, muito menos sobre São Pedro poderá cair (apesar de tentarem), uma vez que as chuvas estão dentro do volume esperado. Desta vez vai ficar difícil para autoridades encobrirem seus erros. Pelo menos é o que esperamos, pois o maior receio e que daqui a 1 ano estejamos revivendo as mesmas imagens que há 1 semana tomam conta dos noticiários.

Austrália dá Exemplo

Guardadas as diferenças geográficas entre os dois lugares (a Austrália é predominantemente plana), a terra do canguru dá uma lição de como devíamos enfrentar situações de alagamento como as ocorridas aqui no Brasil nesta época do ano.

Diversos rios transbordaram no nordeste da Austrália, onde choveu mais do que na região serrana do Rio (200 mm contra 180 mm em média), no entanto, lá resultaram em 'apenas' 19 mortes.

No início da tarde de 11/01 (terça-feira), as autoridades australianas emitiram um alerta e esvaziaram o centro da cidade de Brisbane. O rio da cidade transbordou e forte correnteza encobriu as pontes que o cruzam. No aviso feito pela polícia aos moradores do centro, solicitava que evitassem deixar suas casas nas próximas 24 horas e só saíssem se fosse estritamente necessário. As aulas foram suspensas e o comércio local fechou as portas, enquanto as empresas liberaram os funcionários. Avisos foram colocados em prédios, ruas foram interditadas e a cidade se preparou para o que poderia acontecer. Toda a movimentação que há aqui depois das coisas acontecerem, lá ocorreu antes de tudo começar.

As autoridades montaram um plano especial para a retirada dos moradores, que residem em locais com propensão à inundação, para regiões mais altas da cidade, caso o rio ultrapassasse o pico da vazão estimado em 4 metros e 20 centímetros.

São situações diferentes, porém impressiona o contraste da organização australiana com a incompetência brasileira.

Para piorar a situação, segundo a Folha de São Paulo (15/01) existe um estudo encomendado pelo próprio Estado do Rio de Janeiro que já alertava, desde novembro de 2008, sobre o risco de uma tragédia na região serrana fluminense. A situação mais grave, segundo o relatório, era exatamente em Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo.

Também, segundo a publicação os institutos de meteorologia informaram às autoridades locais sobre a possibilidade de ocorrência de chuvas moderadas a fortes, no entanto, segundo a Defesa Civil, a previsão não dava a dimensão da chuva que acabou devastando boa parte das cidades serranas, e os alertas não foram dados.

Pois é, enquanto uns investem na retirada preventiva de moradores e um competente sistema de previsão e aviso à população com o objetivo de salvar vidas, outros gastam com a retirada de corpos dos escombros. É a mazela brasileira diária de uma terra que pode ter sido abençoada por Deus, mas foi esquecida por seus governantes.



Vanderlei Almeida / AFP Photo
dhacc.blogspot.com



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