quinta-feira, 13 de março de 2025

Resultados do Carnaval Carioca 2025

Terminadas as apurações do Carnaval Carioca de 2025 tivemos a consagração da Beija Flor de Nilópolis como campeã do Grupo Especial em um ano de mudanças no formato do desfile e no julgamento. Pela primeira vez a divisão principal contou com três dias de apresentações e fechamento dos cadernos de notas após cada dia. Apesar de algumas poucas reclamações, a disputa do título ter ficado entre Beija-flor, Grande Rio e Imperatriz (justamente as três primeiras colocadas) agradou a comunidade carnavalesca em rara unanimidade, assim como o 4° lugar destinado a Viradouro. O problema começa a partir daí com a inexplicável presença de Portela e Mangueira na 5° e 6° posições respectivamente, preterindo o Salgueiro no desfile das campeãs. Gritante descompasso também foi o rebaixamento da UPM, que confirmou a regra da escola que sobe em um ano cai em seguida, se não tiver bandeira forte. 
Algumas das distorções podem ser creditadas a mudança na regra de entrega das notas, que antes acontecia apenas ao final dos dois dias de desfile e que agora são lacradas ao final de cada dia. Tal procedimento expõe certa indecisão quanto a mecânica do julgamento, se técnico e objetivos ou comparativo. Caso o desejo é que não se compare, as notas deveriam ser de hadas após a passagem de cada escola. Se o critério é permitir a comparação (método preferido da maioria dos analistas de carnaval) deveria ser claramente orientado aos julgadores como fazê-lo. Não tenho uma opinião formada. Cada opção possui ônus e bônus. Algo objetivo cria um tecnicismo talvez não apropriado ao Carnaval e pode culminar em diversos empates, porém afastaria o aspecto pessoal da avaliação. Já a comparação permitiria, por exemplo, que o julgador tenha acesso a informações sobre os desfiles que ele não identificou in loco e de alguma forma influenciar sua nota, porém permite que ele nivele os trabalhos apresentados em escala mais fidedignas. Esse ponto é algo que LIESA poderia se debruçar e destinar um esforço e tempo caso haja, de fato, interesse em solucionar esse aspecto do evento. 

Na Série Ouro o título da Acadêmicos de Niterói (escola no qual desfilo) também teve pouquíssimas falas contrárias. Apesar de não ter sido classificada, de início, como candidata ao título (lugar destinado a Estácio, Ilha e Porto da Pedra), era claro que sua apresentação lhe renderia uma posição de destaque no resultado final. Acabou por ser premiada com o acesso ao grupo de elite do Carnaval, lhe obrigando a robustecer seu contingente para realizar uma boa apresentação em 2026 sem se preocupar com rebaixamento, que parece se apresentar como resultado final a que se destinam as escolas recém chegadas ao Especial. A queda da Tradição para a Série Prata não é uma surpresa dado os problemas de fantasias e alegorias notadamente perceptíveis. Contar com a São Clemente ao seu lado se não é exatamente uma injustiça, pois a Botafogo fez um desfile bem complicado plasticamente, pode-se dizer que era esperado desde o período pré carnavalesco, começando pela escolha do enredo até a definição do samba. 

Após mais de uma década longe da Sapucaí, a Unidos do Jacarezinho foi a grande campeã da Série Prata, que contará com 29 agremiações em 2026. Chegaram perto da sonhada vaga a Império da Uva, de Nova Iguaçu e a Acadêmicos da Abolição, do bairro de mesmo nome. Desceram para a Série Bronze: Unidos da Barra da Tijuca, Sereno de Campo Grande, Flor da Mina do Andaraí, Alegria de Copacabana, Concentra Imperial e Boi da Ilha do Governador, as duas piores classificadas de cada um dos três dias de desfile. 

A Série Bronze, quarta divisão do Carnaval, promoveu quatro escolas ao grupo de cima, as duas melhores de cada dia. São elas  a União do Parque Curicica, Lins Imperial, Acadêmicos do Dendê e Siri de Ramos. Por sua vez, seis escolas tiveram como destino o Grupo de Avaliação:  Raça Rubro-Negra, Bangay, Arame de Ricardo, Império Ricardense, Gato de Bonsucesso e Acadêmicos de Jacarepaguá.

Do Grupo de Avaliação ascenderam a Série Bronze a Rosa de Ouro (de Oswaldo Cruz) e Novo Império (de Vila Valqueire). 
Na quinta divisão do carnaval haverá uma  análise de cada escola antes do periodo carnavalesco para apontar aqueles com potencial para desfile e apenas estas poderão se apresentar na Intendente Magalhães para a competição. 

Confira a classificação de cada grupo do Carnaval Carioca: 
https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Resultados_do_Carnaval_do_Rio_de_Janeiro_em_2025

terça-feira, 17 de dezembro de 2024

Análise de "Senna" - Minissérie da Netflix

                                 Foto: Divulgação 

Entre acertos e erros, a minissérie da Netflix "Senna" impressiona pelo apuro técnico e emociona tanto novos quanto antigos fãs do piloto brasileiro, falecido em 1994. No entanto, a narrativa poderia ter evoluído com algumas escolhas diferentes.

Pretendida há mais de uma década, uma superprodução que narrasse a vida de Ayrton Senna já flertou com o cinema, chegando a considerar Antonio Banderas como protagonista. A dificuldade e alto custo em recriar cenários e o controle exercido pela família Senna sempre foram obstáculos para o projeto, que finalmente ganhou vida na Netflix, sob a direção de Vicente Amorim e Júlia Rezende, com Gabriel Leone interpretando o ex-piloto brasileiro.

Os seis episódios, com cerca de uma hora cada, expõem parte da carreira de Senna no Brasil, retrata sua ida para a Inglaterra para competir na Fórmula 3 e, posteriormente, sua entrada na Fórmula 1. Antes de ascender à McLaren, a minissérie destaca sua corrida em Mônaco pela Toleman em 1984, onde chegou em segundo lugar, logo atrás de Prost, sendo impedido de ultrapassá-lo por uma manobra que encerrou a prova antecipadamente. Término precoce custou o campeonato ao francês por 0,5 ponto. A série segue com sua trajetória na Lotus, equipe pela qual conquistou sua primeira vitória, em Portugal no ano de 1985. Um salto para 1988 com a entrada de Senna na McLaren e seu primeiro título na nova escuderia, com direito ao emocionante tema da vitória.

A série também cobre o campeonato de 1989, com a mãozinha de Balestre, então presidente da FIA, favorecendo (mais uma vez) Prost. A narrativa prossegue com o bicampeonato do brasileiro em 1990, marcado pela batida vingativa no início da corrida no Japão, e o tricampeonato, um ano depois, também em solo nipônico. Os anos de 1992 e 1993 são, em grande parte, ignorados para que o último episódio possa focar na breve passagem de Senna pela Williams. A vida pessoal do piloto também é abordada, desde seu relacionamento com sua única esposa, Lilian, seu famoso namoro com a ex-apresentadora Xuxa e, quase tão rápido quanto uma volta, mostra algumas cenas com Adriane Galisteu.

De cara, o que chama a atenção positivamente é a qualidade técnica, refletida na incrível reconstituição da época e no magnífico trabalho de construção (digital e física) dos carros e autódromos, em algo muito próximo ao visto no filme "Rush"

Diversas técnicas foram usadas para proporcionar essa imersão, incluindo o desenvolvimento de fiéis reproduções para cenas com closes até o uso de CGI com captura de QR code em esqueletos dos carros nas cenas de corridas, com um resultado extraordinário, com, talvez, uma leve exceção para os carros da Williams usados em 1994, apenas para aqueles mais detalhistas. A produção lançou mão do uso de telas LED, tecnologia que substitui o cromakey e projeções em tela e que está presente em grandes produções como "The Mandalorian", ganhando muito em realismo.

Outro acerto é a representação gráfica de uma fala de Ayrton, sobre se sentir em um túnel contínuo em uma corrida em Mônaco, que consegue proporcionar uma conexão imediata para aqueles que já conhecem a história. Um efeito semelhante é usado para representar o momento no qual Senna encontra espaço para ultrapassagens, mas nesse caso o uso repetitivo acaba ficando cansativo e pedante.

O elenco merece destaque. Gabriel Leone, que interpreta o protagonista, pode não se parecer muito com Senna, mas a maquiagem, penteado e, sobretudo, o cuidado com o gestual do tricampeão, conferem ao espectador a dose certa de credibilidade. Viviane Senna, irmã do ex-piloto, Ron Dennis, chefe da McLaren, e Balestre também convencem na caracterização. Pamela Tomé, que interpreta a rainha dos baixinhos, impressiona pela similaridade, embora sua interpretação seja um pouco prejudicada pelas falas carentes de profundidade destinadas à sua personagem. 

E se na parte técnica a produção conquista a pole position, essa carência de profundidade citada colocam o roteiro e a construção da história no meio para o final do grid. Apesar de não ser um motivo para deixar de assistir à minissérie, a superficialidade do texto pode incomodar parte do público. O uso insistente de falas de outros personagens com ensinamentos de vida a Senna escorrega para o piegas. Todo mundo tem uma frase de efeito pronta para ser dita em um momento oportuno, e tudo em um formalismo distante do comportamento normal. Além disso, as tentativas de justificar as decisões controversas ou mesmo erradas do ex-piloto também se mostram desnecessárias e dignas de pena. Suas falhas não são incoerentes naquele ambiente e não precisariam ser atenuadas, mas o texto segue em uma tentativa desesperada de não macular a imagem construída ao longo das décadas. A história até consegue nos mostrar um pouco mais do que o grande público esteja acostumado, mas tendo em vista o tempo de decorrido desde sua morte, haveria espaço para menos complacência. O que seria mostrado não diminuiria sua figura, especialmente pela fato das histórias serem de fácil acesso. 

Em toda biografia existe o, nem sempre agradavel trabalho de priorizar determinados eventos. Apesar de acertar na maioria das escolhas privilegiar os anos nos quais Senna conquistou seus títulos acabou por deixar de fora momentos importantes, que renderiam ao menos mais um episódio. Ficaram de fora sua lendária primeira volta na corrida de Donington Park em 1993 (para quem não conhece é bom dar uma olhada também na primeira volta de um jovem Rubens Barrichello) e sua vitória em Mônaco em 1992, suportando uma pressão absurda de Nigel Mansell, personagem quase que completamente ignorado. A série peca em mencionar timidamente a conquista do GP do Brasil, quando a torcida invadiu a pista e ergueu Senna nos ombros. Essa uma hora a mais, discorrendo sobre os anos de 92 e especialmente 93 poderia também ter dado mais profundidade e justificado tecnicamente sua troca da McLaren para a Williams.

A minissérie também promoveu certa disparidade ao relegar apenas cerca de dois minutos de tela a Adriane Galisteu, em comparação com um episódio inteiro dedicado a Xuxa. Apesar de fazer sentido para a história a ser contada privilegiar um relacionamento de maior notoriedade, a diferença chama a atenção e colabora para a tese do controle familiar na narrativa e reforça a predileção por uma em detrimento à outra  

É ignorada também pela produção a polêmica relação com Nelson Piquet, que envolveu provocações de Senna e declarações, digamos, pouco delicadas do compatriota que até hoje mantém um comportamento que, para alguns, é autêntico, mas que se revela cada vez mais incompatível com a evolução social desde a década de 80. Seria um, defensável motivo de não tocar no assunto, por outro lado deixar isso de fora mostra certo medo de levantar qualquer tema minimamente incômodo. 

Ao final, a sensação é mista. Para aqueles que, como eu, viveram parte dos eventos e guardam memórias de acordar cedo nos domingos para acompanhar as corridas, que guarda recortes de jornal da época, que pendurava bandeira brasileira na janela (antes de tornar um dúbio sinal), que vibrava com a ufanista narração de Galvão e que se lembra o que estava fazendo em primeiro de maio de 94, a minissérie é um deleite gráfico que faz voltar no tempo. Carros, macacões, circuitos, publicidade, tudo beira a uma perfeição hollywoodiana. Mas, passados 30 anos dos eventos do GP de San Marino (circuito de Ímola) de 94 e com o amadurecimento daqueles que já passaram dos 40, talvez fosse o momento de mergulhar um pouco mais fundo e permitir mostrar os defeitos do ser humano Senna, abandonando um pouco a defesa intransigente da figura heróica. Perpetuar essa imagem mitológica simplifica um personagem complexo e fascinante, e reproduzir o mesmo discurso acaba o limitando. Permanecer no mesmo discurso pode ter como intenção mirar nas novas gerações ou aqueles não tão apegados às minúcias e assim manter sua áurea intacta, mas também acaba por não lhe dar a sua dimensão humana.

Apesar das derrapadas na narrativa, ao terminar de assistir, fica um gosto de que poderia haver mais um ou dois episódios mostrando mais carros, mais pilotos, mais  corridas, porém também de que a abordagem dos seis episódios poderia ter sido outra, menos chapa branca, menos complacente e menos heróica. 

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

Análise do Carnaval 2014

O resultado do Grupo Especial não trouxe grandes surpresas. O favoritismo da Viradouro era reconhecido entre críticos e na apuração foi brevemente ameaçado por Imperatriz e Vila e com mais afinco pela Grande Rio, que não resistiu após o terço final. A vermelho e branco simplesmente passeou na avenida com uma qualidade plástica impressionante que soube trabalhar tanto a ausência de luz assim como a luz do Sol. A harmonia e evolução da escola lembram os tempos de rolo compressor da Beija Flor. Durante seus ensaios na Amaral Peixoto, era notável a a força de seu chão e isso se refletiu na Sapucaí. 

Ao falar da Viradouro (e da Grande Rio) é necessário citar o uso da iluminação cênica, timidamente usada no ano passado e explorada com muito mais destaque agora. Goste ou não o fato é que é um processo, provavelmente, irreversível, assim como várias mudanças que o ocorreram ao longo do tempo e que geraram protestos e discussões, mas que se consolidaram. Particularmente acredito que ela favorece ao espetáculo se usada de forma coerente, consciente e controlada. Um exemplo de bom uso foram em sambas que falavam em 'trovoada' ou 'tempestade' nos quais o efeito de flash era usado ou quando havia uma passagem com o termo 'brilhou' com luz sendo apagada momentos antes para então acender nesta parte do samba. As luzes com cores específicas para valorizar determinada alegoria ou fantasia assim como a ausência de iluminação para sobressair roupas e carros fluorescentes também me agradaram e tais recursos já são empregados no festival de Parintins com bastante sucesso. Sim, é uma forma de espetáculo distinto, mais teatral do que o Carnaval, porém tudo passa pelo uso com parcimônia para que esse recurso não se sobressaia em relação ao sambista e aos desfilantes. Os efeitos de iluminação não podem ser protagonistas e sim suporte para contar a história, apresentar o enredo e valorizar a música e a festa.

Voltando a classificação, nas demais colocações me causou certa surpresa o desempenho do Salgueiro, que esperava-se não retornar nas campeãs, apesar de um desfile sem erros notórios não se destacou, assim como certa benevolência com a Tuiuti que era apontada como possível "adversária" da Porto da Pedra na briga contra os rebaixamento, mesmo após a escola de São Gonçalo ter deixado um buraco de mais de 100 metros, não mostrado na transmissão televisiva. 

Aliás a transmissão da Globo merece destaque. Por anos a fio a emissora priorizou o BBB e deixou de transmitir a primeira escola e por questões de estratégia comercial não passava os esquentas e terminava a transmissão muito antes da escola chegar ao final. Ou seja, o menos possível era exibido da escola e ainda por cima insistia com repórteres nos camarotes dando voz a pessoas sem qualquer importância para a festa. 

Quando enfim concorda em passar todas as escolas e desde o esquenta resolve ficar mais de 10 minutos com imagens da bateria no primeiro recuo cortando para algumas reportagens na arquibancada. A escola quase chegando ao meio da pista e nada. Espectadores quase foram 'premiados' com a não apresentação da comissão de frente. Fecha o pacote o som do samba muito baixo e áudio do estúdio vazando, problema resolvido, em grande parte, no segundo dia.De ponto positivo foram as reportagens com os trabalhadores dos barracões.

Para ser justo a transmissão da Band da Série Ouro também foi sofrível. Excessivas imagens áreas, poucas tomadas mostrando detalhes das fantasias e carros e apresentadores fora de sintonia dos comentaristas.

Retornando às agremiações, destaque positivo para o bom e, especialmente, emocionante desfile da Portela. Um bom conjunto de fantasias, alegorias corretas, samba bonito e evolução adequadas retomaram o orgulho que os componentes que estavam descontentes com o caótico (e menos despontuado do que merecia) desfile de 2023. 

Já os maus resultados de Mangueira e Tijuca resultaram em mudanças. Na verde e rosa a dupla de carnavalescos foi desligada pouco depois da apuração e no dia seguinte o Diretor de Carnaval da escola tijucana já não fazia mais parte dos planos da escola para 2025. A queda na qualidade plástica e problemas no acabamento (pelo menos nos carros e mais especificamente no carro da Alcione tocando trompete) após saída de Leandro Vieira da velha manga pode ter pesado na decisão. Já a azul e amarela tijuca, desde a escolha do samba já denotava um desfile burocrático e assim foi confirmado. 

Não se pode terminar esse texto sem mencionar a acesso de UPM ao grupo principal depois de 52 anos. A escola que nesse período passou por grupos de avaliação e série E (antiga sexta divisão do samba carioca) e teve 5 vices no grupo de acesso desde 2015 (alguns injustos) enfim chega a glória do Grupo Especial. Parabéns à Unidos de Padre Miguel e sua comunidade. 

quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

Sambas Enredo Série Ouro 2024


Diferentemente dos Sambas do Grupo Especial, para as escolas do grupo de acesso (Série Ouro) não escrivi análise de cada uma das obras, mas apenas as coloquei na mesma estrutura de prateleiras.

Clicando nos nomes das escolas você pode ouvir os sambas diretamente do canal da Liga RJ.

Segue também link para o álbum no Spotify.

quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

Análise dos Sambas Enredo Grupo Especial 2024



O Carnaval se avizinha e uma boa safra, com apenas uma obra de menor qualidade (na minha opinião) irão rasgar a avenida e disputar mais um título na Marquês de Sapucaí em meados de Fevereiro. Esse ano teremos uma reedição realizada pela Vila Isabel com o belo 'Gbala' de 1993 e outras 11 obras originais, e justamente o samba da azul e branco do bairro de Noel, juntamente com Viradouro e Grande Rio que destaco das demais como melhores hinos de 2024. Na outra ponta, o samba da Tijuca, me pareceu estremamente burocrático, sem criatividade, contudo insuficiente para ficar na última prateleira. 

Prateleiras

Primeira: Viradouro - Vila Isabel - Grande Rio

Segunda: Mangueira - Salgueiro - Mocidade - Portela 

Terceira: Imperatriz - Beija Flor - Paraíso do Tuiuti - Porto da Pedra

Quarta: Unidos da Tijuca

Quinta:Nenhum samba ficou nessa prateleira


Abaixo confira uma pequena análise de cada obra.
Para ouvir o samba clique no nome da escola no canal da Rio Carnaval no YouTube.

Ouça também no Spotify

Imperatriz Leopoldinense

Com a Sorte virada pra Lua segundo o Testamento da Cigana Esmeralda

Os primeiros versos são bons e lembram muito (muito mesmo) os sambas da Estácio e Grande Rio de 1993. À medida que avança acaba se tornando meio genérico. O falso refrão do meio é interessante, mas não chega a mudar esse aspecto. A segunda parte vai no mesmo embalo. O fruto da junção de dois sambas concorrentes rendeu uma letra que não me cativou ou empolgou e explica muito pouco do enredo. É simpático, mas apenas isso. 


Viradouro

Arroboboi Dangbé

Bela letra e com uma melodia mais empolgante do que alguns sambas recentes da escola. O refrão principal me parece um pouco pedante e reciclado, mas nada que fuja do comum. O refrão do meio é bem superior ao citado acima e destaco os belíssimos versos "Já sangrou um oceano pro seu rito incorporar / Num Brasil mais africano, outra areia, mesmo mar", uma poesia. Vander Pires tem cacife para levar muito bem a escola e o chão da vermelho e branco é impecável, mas a identidade criada entre Zé Paulo e a vermelho e branco foi muito singular e difícil de superar. 


Vila Isabel

Gbala – Viagem ao Templo da Criação

Não há muito o que se discutir com uma obra de Martinho da Vila. Uma belíssima letra e de um primor melódico com variações que te surpreendem e até podem confundir quem o escute pela primeira vez , mas em poucas passagens já são assimiladas. Outro grande trunfo é que se trata de um samba pra cima e empolga sem cair na galhofa gratuita. Um dos melhores sambas do grupo especial sem dúvida. O único senão é uma pausa excessiva (pausas me incomodam muito) entre os versos "No templo da criação / Lá os guias protetores do planeta".


Beija Flor

Um delírio de Carnaval na Maceió de Rás Gonguila

Penso que sofra do mesmo 'problema' que a letra da Imperatriz. É um bom samba, mas não cativa, não te chama. Longe de atrapalhar a harmonia da escola, é esquecível na mesma proporção. Tem um animado refrão do meio, porém é seguido de uma quebra no canto que me incomodou muito em "Gira-mundo feito (pausa, novamente ela) pião que 'gonguila' do jeito". O refrão principal chega a conversar com o piegas apelando para uma excessiva auto exaltação, que é comum, mas precisa ser equilibrada. 


Mangueira 

A Negra Voz do Amanhã

Após uma disputa entre mais de 20 sambas de uma safra que ficou aquém das expectativas, a verde e rosa escolheu seu hino novamente de autoria de Lequinho, que chegou à final, também novamente, com a parceria de Thiago Meiners. É uma bom samba, mas depois de "quando verde encontra o rosa toda preta é rainha" do ano passado, esperava-se algo similar em termos de genialidade. A fórmula está lá inclusive na tentativa de reeditar versos impactantes antes do refrão principal com "ela é Odara...", mas não foi dessa vez. O refrão em seguida também poderia ser melhor. O destaque fica para a ótima primeira parte e refrão do meio, "Toca tambor de crioula...".b

Obs: Não é o ideal, mas preciso expor que duas soluções apresentadas em sambas concorrentes poderiam enriquecer a letra. 

A parceria de Fábio Martins citava Alcione com o belo  "quem é mangueira sabe verde e rosa dá marrom" saindo do lugar comum de todas as demais letras.

Já a parceria de Thiago Meiners trouxe os tais versos impactantes, mas fortes do que a proposta do Lequinho: "quem veste e rosa é sentinela de erê". 


Grande Rio

Nosso Destino é ser Onça

É um bom samba, forte e com capacidade de segurar um desfile. Talvez não tenha uma fluidez que nos permita 'visualizar' o enredo, mas não é algo obrigatório, mas que aprecio. Possui trechos que propiciam boa interação com o público e uma boa resposta sempre colabora para uma evolução satisfatória. O conjunto é muito equilibrado, não tem um trecho encantador, mas não possui nenhum verso regular ou ruim, e essa homogeneidade qualificada me fazem colocar a obra na primeira prateleira. Impressionante como a escola consegue se afastar cada vez mais de sua imagem criada nos anos 2000 com enredos e sambas de qualidade duvidosa e tomou um rumo estremamente satisfatório.


Salgueiro

Hutukara

Não sou muito fã de usar termos mais modernos em sambas que, a princípio, não indicariam o seu uso, mas no caso do samba do Salgueiro eles encontram-se adequados. Não chega à excelência em termos de letra e melodia, apesar de passagens bem inspiradas como por exemplo em "antes da sua bandeira, meu vermelho deu o tom" e "Falar de amor enquanto a mata chora / É luta sem flecha, da boca pra fora". A mensagem é forte e importante, a atenção aos povos originários e o tratamento, indigno, dado em tempos recentes ganham uma importante voz. Com isso ele consegue nos ganhar. 


Paraíso do Tuiuti

Glória ao Almirante Negro!

João Cândido não passa muito anos sem ser citado em algum samba enredo e está ano ganha um enredo como tema principal. O samba da Tuiuti consegue sintetizar muito bem a história passando pelos principais elementos da vida do almirante negro lider da revolta da chibata. Estão lá a tomada da esquadra ("Meu nego, a esquadra foi rendida), a promessa de perdão e de atendimento às reivindicaçõe e em seguida descumpridas ("Nego, a anistia fez o flerte / Mas o Palácio do Catete / Preferiu a traição"), a prisão e o castigo ("novo cativeiro / Mais uma pá de cal") pelo qual João conseguiu sobreviver, entre outros. Apesar disso e de ser um bom samba, (eu) esperava um pouco mais, especialmente pelo fato de outras obras, que perpassavam essa mesma história serem  melhores, mas compre muito bem seu papel. 


Unidos da Tijuca

O Conto de Fados

Penso ser a obra mais fraca dessa boa safra de 2024 do grupo especial. Muito previsível e pouco inspirado. A simplicidade não é um problema, mas a falta de criatividade sim e um dos trechos que refletem isso é logo no refrão principal: "que o fado vira samba e o samba vira fado" e logo em seguida vem com "samba fadado / Ao mar do outro lado". A melodia também não ajuda muito. Até ameaça algo mais enérgico, mas não se mantém. Talvez nem o, encorporável Ito, consiga jogar para cima e chamar a galera. Parece prenunciar um desfile arrastado. 


Portela

Um Defeito de Cor

A azul e branco tenta se livrar do vexame protagonizado no ano passado no qual com um samba aquém do enredo e com um desfile caótico flertaram com Série Ouro. Para o desfile de 2024 elegeu para seu hino um samba bem equilibrado entre a emoção e empolgação, mesmo que falte aquele ponto de explosão. Destaco positivamente os trechos iniciais com "fina flor, jardim do gueto / Que exala o nosso afeto" assim como em "Em cada prece, em cada sonho, nêga / Eu te sinto, nêga / Seja onde for / Em cada canto, em cada sonho, nêgo / Eu te cuido, nêgo cá de onde estou".


Mocidade

Pede Caju que dou… Pé de Caju que dá…

De plena consciência de que o enredo não pedia um samba rebuscado e profundo, a Mocidade apostou na descontração de uma obra que tem tudo para contagiar o público na marquês de Sapucaí. A verde e branco promete agitar a passarela com um desfile leve, colorido e animado e contará com o microfone do sempre elétrico Zé Paulo Sierra, um de seus trunfos para o sucesso dessa interação com a plateia. O refrão "Meu caju, meu cajueiro / Pede um cheiro que eu dou / O puro suco do fruto do meu amor / É sensual esse delírio febril / A Mocidade é a cara do Brasil" conversa muito bem com público e foi muito bem recebido pela comunidade. 


Porto da Pedra

Lunário Perpétuo: A Profética do Saber Popular

Wantuir é a cara da Porto da Pedra e promete segurar com raça o samba que possui melodia superior a letra que é longe de ser ruim, mas também não transborda criatividade. Os versos longos podem cansar um pouco o que pode comprometer a harmonia e evolução, ainda mais sendo a escola que abrirá o desfile de Domingo. Contudo, ouvindo a gravação acredito que ele possa melhorar na avenida, acelerando um pouco a bateria para ganhar em energia. Destaque positivo para o refrão principal e o trecho "Quem acendeu as lamparinas desse céu? / No Brasil, os retirantes são os astros de cordel".