terça-feira, 7 de maio de 2013

A Violência com CEP.


Imaginem a cena: 

Do alto de um helicóptero, sobrevoando a orla do Leblon, avista-se uma pessoa saindo de um prédio na Delfim Moreira e entrando em um carro.  "Acho que é ele", diz um dos ocupantes da aeronave. Um outro fala: "é parece ele sim". À noite e 40 metros acima não há como ter 100% de certeza, mas decide-se arriscar. Rajadas de metralhadora são disparadas contra o veículo que segue em movimento pela chique avenida. Alguns apartamentos são atingidos. Carros importados estacionados ao longo da via também são alvejados. O meliante é morto. 

No dia seguinte todos os jornais mostram as cápsulas caídas à rua e as vidraças dos belos apartamentos estilhaçadas. Senhoras bem arrumadas são entrevistadas segurando cachorrinhos com frufru na cabeça. Elas estão chorando, falando do susto que passaram. Jovens com camisa da hering com a inscrição Hollister, pela qual pagaram R$ 100,00, mostram seus carros, que acabaram de ganhar dos pais por passarem no vestibular de alguma faculdade privada, perfurados por balas de 762. 

No mesmo dia, à tarde, o VivaRio, com ampla cobertura da imprensa faz manifestação pela orla do bairro. Milhares de pessoas, moradores da região e adjacências, vestidos de branco, com velas nas mãos cantando a música 'A Paz' do Gilberto Gil, protestando contra a ação irresponsável da polícia que colocou em risco a vida dos nobres filhos da alta sociedade carioca. Ao final da passeata dão um abraço simbólico ao bairro preferido do escritor de novelas globais, Manoel Carlos.

No dia seguinte o Governador, em uma coletiva de imprensa, exonera o comandante do Batalhão responsável pela operação e expulsa da corporação os envolvidos na ação e afirma, com os olhos lacrimejantes, que isso não irá se repetir e que não podemos colocar a vida dos cidadãos de bem em risco e que a ação deveria ter um suporte em terra que confirmaria a identidade do elemento e o abordaria em um local apropriado. Completa dizendo que a força só seria usada caso a polícia fosse atacada primeiro ou se o meliante colocasse a vida de outros em risco. 

Mas nada disso aconteceu. O ocorrido foi em uma favela. As casas alvejadas eram de pobres. As vidas em risco não eram da juventude abastada que anda de carro de luxo. No mais, o bandido foi morto mesmo. Porque argumentar mais? Porque? Porque está errado! 

Em nenhum país do mundo, que não está em guerra, aceitaria isso. O modo como encaramos a violência, dos criminosos ou da polícia, é parte do problema. Mentalidades engessadas no velho discurso do 'bandido bom é bandido morto' (que não se aplica com a mesma intensidade sobre políticos que roubam da educação e saúde) e de que os fins justificam os meios, não irão ajudar a equacionar o problema. Não se trata de defender bandido. Não é pena. Mas sempre tratamos a questão da violência com mais violência, principalmente se envolver as classes mais desfavorecidas, e estamos nessa situação. Será que esse é o caminho certo? Será que a solução virá dessa escalada de quem mata mais? Ou será que temos de sentar e tratar as coisas seriamente? Estudar exemplos de outros países. Elaborar propostas juntamente com a sociedade civil. 

Mas dá trabalho. E gasta tempo e dinheiro. E gastar tempo e dinheiro com bandido não dá voto e nem lucro.

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