sábado, 25 de agosto de 2012

'Batman: The Dark Knight Rises'. A Conclusão de um Épico.


Antes de assistir ao filme, me indagava se sentiria a mesma sensação quando conferi ‘O senhor dos Anéis – O retorno do Rei’ lá nos idos de 2000. Ao presenciar o final da trilogia de Peter Jackson dentro do universo de J.R.R. Tolkein, o sentimento era de um ‘vazio nerd’, pois no próximo ano não teríamos nossa dose de épico de fantasia. Se essa preocupação se confirmou ou não só poderei revelar ao final do texto.

Fonte: http://www.ineedmyfix.com


Chris Nolan arrumou um problema para si mesmo ao subverter as regras das trilogias, que em sua maioria produz um segundo filme mediano, pois a ele é conferido o ingrato papel de ligar a história, criar um elo entre o início e o fim de um grande enredo. Normalmente são filmes de menor grandeza, exceção feita à ‘O Império Contra Ataca’, mas ao nos entregar ‘O Cavaleiro das Trevas’ com sua ação incessante, um Heath Ledger possuído, um herói que cai e outro que precisa se passar por vilão e ser caçado, cria para si um desafio, se superar e dar um desfecho digno a maior e mais bem sucedida incursão de um personagem de quadrinhos no cinema. Mas para os que desejam saber se esse é melhor dos três, é necessário frustrá-los e assim como boa parte das críticas pontuam, não é correto comparar os filmes e sim entendê-los como uma grande história contada em três partes. ‘Batman Begins’ nos apresenta ao personagem principal, revela como ele se constitui, o que o leva às opções que toma e prepara o terreno para seu desenvolvimento em ‘Cavaleiro das Trevas’, no qual assistimos sua luta contra o caos propagado pelo Coringa e o sacrifício pela cidade assumindo para si a culpa pela morte do cavaleiro branco de Gotham, Harvey Dent. 



Neste desfecho da história, Nolan procura desenvolver uma redenção - um ressurgimento como propaga o título - de Batman e porque não, um reconhecimento da cidade para com seu herói outrora perseguido. O importante é situar fãs ou não dos quadrinhos que ‘Batman Ressurge’ é um épico recheado de cenas de ação, diálogos inteligentes, referências aos quadrinhos, história bem encadeada com os filmes anteriores, atuações excepcionais (onde destoa apenas a caricata Marion Cotillard que interpreta Miranda Tate), várias respostas e algumas perguntas. Apesar de carregar consigo elementos de diversas HQs, entre elas – ‘Ano Um’ com relação à Mulher Gato, ‘A Queda do Morcego’ tendo como antagonista o Bane e ‘O Cavaleiro das Trevas’ (cortesia de Gabriel Maranhão), Nolan desenvolve uma história sua e ao seu estilo.




Fonte: forum.jogos.uol.com.br

Fonte: 3.bp.blogspot.com
Fonte: forum.jogos.uol.com.br 


Passando-se oito anos após a morte de Harvey Dent e sua fuga, Batman, mas do que simplesmente voltar à ativa, ressurgir de seu auto-exílio, precisa lutar contra suas dúvidas internas e externas - se deve prosseguir encarnando o herói ou não, nas posições contrárias entre Comissário Gordon e o mordomo Alfred. Aqui é necessário um parêntese para chamar atenção para a cena em que Alfred e Wayne dialogam sobre seu possível reaparecimento como Batman. Com grande carga de emoção, a cena é tensa e espetacular, repousada apenas na interpretação dos dois, sem qualquer suporte para evidenciar a dramaticidade. Michael Caine dá um verdadeiro show e só não engole Bale por respeito ao bom trabalho dele. Próximo ao final do filme ele volta a dar aula de emoção em uma comovente cena. 


Se foram Alfred e Rachel que sustentam o conflito interno de Bruce na sua decisão de incorporar o protetor de Gotham, agora ele é ‘atacado’ por vários outros personagens de todos os lados, mas assim como anteriormente, sua decisão de entrega à cidade acaba superando qualquer opinião contrária ou dúvida que lhe tenha passado pela mente. A tempestade, anunciada em ‘Begins’, que está por vir, exige o vigilante noturno, e ainda lhe resta algo a oferecer a sua cidade, àquela que proporcionou a riqueza e o poder da sua família.


Tomada a decisão de vestir o uniforme negro novamente, Batman terá de lidar com um vilão realmente à altura. Não que o Coringa excepcional de Heath Ledger, um dos melhores vilões que o cinema já viu, fosse fraco, mas um embate no mano a mano, no braço, seria covardia. Já com Bane é diferente. A força física e agilidade do grandalhão desafiam a habilidade de Batman que já não é mais a mesma depois de sua aposentadoria e o corpo castigado pelo combate à corja de Gotham. Na aguardada cena de luta entre os dois, tirada de ‘A Queda do Morcego’, presenciamos um combate cru, real e impactante, e a corajosa decisão de Nolan pela ausência de som (assim como no diálogo entre Alfred e Bruce) a torna em uma cena angustiante e épica. Cada fotograma desta parte do filme deveria estar em um museu.

Fonte: edgeoftheplank.com

Igualmente angustiante é o caos implantado por Bane em uma Gotham, que diversa daquela apresentada nos demais filmes está mais vistosa, pomposa, o que representa clara disparidade em relação à cidade sombria do primeiro filme. Mesmo reconhecendo o terror propagado não dá para negar certa dose de alegria pelo ‘furor revolucionário’ quando a nobreza da cidade é arrancada de suas casas e dos quartos de hotéis. Eu ‘admirarei’ o terror instaurado pelo Coringa em ‘O Cavaleiro das Trevas’, mas ver as cenas (já reveladas no trailer) das pontes caindo e do campo do estádio de futebol americano se esvaindo, nos passa algo mais teatral, mais engendrado, mais profissional e por isso mesmo mais temível do que no filme anterior. Há até certo paralelo entre um e outro, como por exemplo, o Hospital de Gotham sendo explodido e um Coringa caminhando impassível, quando acompanhamos a destruição no estádio acompanhando do discurso de Bane. A similaridade pára aí. Com o primeiro a platéia ficara boquiaberta, mas com o segundo ela fica com medo.


Também podemos encontrar paralelos entre os filmes em outros momentos. Em evidente relação com o poço da mansão dos Wayne, a prisão na qual Bruce irá se encontrar (em todos os sentidos) marca o segundo e verdadeiro ressurgimento no filme. Se no primeiro capítulo da trilogia ele foi ao fundo para encontrar e lutar contra o seu pior medo e de lá surgir como o homem morcego, agora ele terá de sair de um outro para encarar seu adversário mais forte e deter a destruição, não apenas moral como Coringa tentou, mas sim a aniquilação física de Gotham que a liga das sombras de Ra's Al Ghul já havia tentado, mas não conseguido.


Para sua empreitada, Batman irá contar com a ajuda dos já costumeiros Fox e Gordon além do policial John Blake e da ladra Selina Kyle. Não é qualquer diretor ou produção que pode contar com Morgan Freeman e Gary Oldman como coadjuvantes, mas há de se ressaltar que as interpretações de Joseph Gordon-Levitt e Anne Hathaway são perfeitas. No caso de Anne, sua Mulher-Gato vai calar a boca de muito crítico que questionava a capacidade da namoradinha de Hollywood frente a um projeto tão grande e importante. Sua cena no bar revela uma capacidade quase bipolar de alteração de estado emocional. Porém, a meu ver, fica longe de ocupar o lugar de Michelle Pfeiffer com seu colã de couro negro e lambida sensual. Não se trata de uma interpretação superior, mas a figura de Michelle é mais icônica.



Fonte: semtedio.com


Fonte: rinaldogoodnews.blogspot.com


Outro reforço é a nave Morcego - sim, é esse o nome mesmo. Devo reconhecer que fiquei meio temeroso da presença da máquina, pois poderia quebrar o pilar da realidade construído por Nolan, mas isso não acontece e devemos levar em consideração que é um filme sobre um milionário que se veste de morcego e caça bandidos à noite. É um filme de um personagem de quadrinhos, ou seja, elementos fantásticos irão aparecer e se o criticaram por ter esquecido esse lado nos dois primeiros filmes, reclamar de sua inserção agora é hipocrisia.


Talvez, mas do que propriamente os elementos fantásticos o que mais se assemelha aos quadrinhos em ‘The Dark Knight Rises’ seja certo tom didático principalmente ao final da projeção o que pode incomodar aos mais familiarizados com o universo HQ, apesar de muitos entenderam como homenagem, mas trata-se de um ‘mal’ necessário, pois se o segundo filme é responsável pela conexão entre o começo e o fim da história, será o terceiro que proporcionará as devidas explicações para entregar uma história redonda aparando as arestas deixadas no caminho. E para isso vale sim discurso de vilão explicando sua motivação, detalhar seu plano e suas armadilhas e todos os clichês que estamos acostumados. Mas pensar que isso desabona o filme chega a ser infantil. Se Nolan não entrega a perfeição como muitos esperavam, seu ‘Batman Ressurge’ é superior a quase totalidade de filmes baseados em quadrinhos que desde o começo da década de 90, e com mais vigor na década passada, invadem os cinemas. Deixa, o bom, ‘Vingadores’ envergonhado. Ensina a Zack Snyder (‘Watchmen’) a como dar tons reais a um mundo de fantasia e lobotomiza das nossas mentes o estupro praticado por Joel Schumacher e Gorge Clooney e sua armadura com mamilos e o batcartão de crédito.


Ah, claro. Em relação a minha preocupação citada no início do texto digo que brechas existem para uma nova história, mas ela tem de ser exatamente isso, nova. Nolan conclui de uma forma a não permitir que aventureiros possam macular sua obra. Acho justo, afinal ele conseguiu retirar o cavaleiro das trevas de um limbo pior do que o de ‘A Origem’. Saudade nerd? Um pouco, mas com a certeza que irão sucumbir à tentação e veremos o submundo de Gotham novamente nas telonas.


Apenas para os que já viram o filme gostaria de pontuar algumas questões interessantes para uma boa discussão. 




Apenas para quem já viu o filme!



1. Começando pelo final fiquei com uma pulga atrás da orelha pensando que o a conclusão de Batman estaria tendendo ao pião rodando de ‘A Origem’, mas diante dos argumentos apresentados o correto é mesmo acreditar na sobrevivência de Bruce. O fato de no final Alfred ver não apenas seu ‘patrão’ mas também Selina é importante, pois ela não ela não havia aparecida de cara limpa para ele durante o filme, ou seja, ele não poderia tê-la imaginado. O conserto do software para funcionar o piloto automático do Morcego também alimenta a tese da sobrevivência de Bruce. O único ponto fora da curva é o de que faltando 5 segundos para explodir a bomba e mostrada uma imagem de Batman aparentemente dentro da nave e uma distância de 5 segundos não seria suficiente para escapar dos efeitos da explosão. A propósito sobre o final, bem que este poderia ser quando Alfred acena com a cabeça, mas o criticariam justamente por tentar imitar seu filme anterior. O importante é que para o filme é que o herói morre e se torna o redentor, o verdadeiro cavaleiro de Gotham. Batman assim não vive a tempo suficiente para ver se transformar em vilão. Ele morre para e por Gotham e assim se torna um mito.


2. Conforme comentado no texto lá em cima, a atuação de Marion Cotillard é a que mais destoa entre todos do elenco. Não entendi por que Nolan deixou aquela cena da morte dela e não pediu outra tomada. Será que foi uma homenagem a alguma coisa. Não sei, mas com certeza ficou terrível. Só faltou a língua pra fora e uma flor na mão.


3. Alguns mais criteriosos irão apontar erros em diversas partes como, por exemplo, no fato de Bruce ter chegado tão rápido à Gotham depois de ter fugido da prisão. No entanto não penso que foi um tempo curto. Quando ele é mandado para lá ainda está no começo dos cinco meses (da bomba) e quando volta a Gotham tem apenas pouco tempo para deter a explosão. Supondo que ele tenha gasto cerca de quatro meses para sair de lá ainda vão restar quatro semanas para retornar para casa e em se tratando de Batman esse tempo é mais do que suficiente. Há de se notar que quando ele vê a última imagem de Gotham pela TV não está nevando na cidade diferentemente quando ele se encontra com Selina, o que implica numa mudança de estação. Tal passagem de tempo poderia ser mais bem explicada na versão do diretor sem cortes. Segundo algumas informações o primeiro corte tinha em torno de 4 horas.


4. Os detalhes são importantes e um deles é de uma quase exclusividade feminina notar. Quando mostraram supostamente a Bane quando criança fugindo da prisão, os olhos dele eram claros enquanto adulto eram escuros. A suspeita de que não se tratava de Bane viria a se confirmar posteriormente quando Miranda Tate revela sua verdadeira identidade. Cortesia de minha esposa, Cristiane Maciel Mahet.
      

Fonte: 1.bp.blogspot.com
Fonte: cinemablend.com
 






















NOTA: 9,5

Batman: The Dark Knight Rises (Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge)

Direção: Christopher Nolan
Elenco: Christian Bale, Tom Hardy, Michael Caine, Morgan Freeman, Gary Oldman, Anne Hathaway, Joseph Gordon-Levitt , Juno Temple, Nestor Carbonell, Daniel Sunjata, Matthew Modine.
Duração: 165 min.

2 comentários:

  1. Allan, aqui é o Fernando do Cinemateca! Li e gostei bastante de sua crítica, demos a msm nota e concordei com vc em vários pontos!

    Gostei principalmente dos comentários abaixo com spoillers, comentou algumas de minhas dúvidas tbm e me fez refletir sobre coisas q não tinha parado para pensar!

    Mto bom, parabéns!

    http://cinemaateca.blogspot.com.br/

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  2. Curti bastante seu comentário. Realmente sou da teoria de que o Batman não morreu. A atualização do software para o piloto automático é uma prova bem importante dessa tese. Fora deixar as coordenadas para o Robin encontrar a caverna e o encontro com Alfred que nunca havia visto Selina.

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