Allan Mahet
Há mais ou menos três semanas, manifestações ocorridas na Tunísia derrubaram o governo de Zine Al-Abidine Bem Ali, desde 1979 no poder.
No dia 25 de janeiro, 10 mil pessoas (segundo o governo local) se mobilizaram no Egito exigindo a saída do presidente Hosni Mubarak enfrentando a polícia no, batizado, dia de fúria.
Em menos de uma semana o número de manifestantes subiu para 1 milhão e os embates com as forças policiais fizeram mais de 100 mortos, 3000 feridos e nenhum pedido de renúncia do governante, apesar dos apelos europeus e cínicas solicitações norte-americanas, que há três décadas está no poder, após um golpe que matou o então presidente Anywar Sadat em 1981.
As nomeações do vice Omar Suleiman e do premier Ahmed Shafiq não satisfizeram o povo, que há trinta anos vive sob um regime de emergência que restringe liberdades individuais e coletivas. Devemos levar em consideração que população egípcia não chega a metade dos 190 milhões que temos aqui no Brasil e que manifestações sem autorização prévia são proibidas no país.
Com este cenário montado, os atos que estão ocorrendo são de extrema relevância, principalmente se compararmos a passividade brasileira que excetuando-se no carnaval, demandaria esforço hercúleo para mobilizar tamanha massa. A insatisfação e o brio egípcio romperam com o legalismo e possíveis discordâncias teóricas promovendo uma aguerrida sublevação de seu povo.
O uso da tecnologia, normalmente associado ao sedentarismo e banalidades se tornou para os egípcios em uma peça fundamental nesse esforço de organização, através das mensagens de 140 caracteres do twitter, uma ferramenta extremamente controlada pelo governo, servindo de arma para a população e condição sine qua non para o sucesso da mobilização, que apesar de não ter atingido (ainda) seus objetivos, que é a deposição do presidente, já nos ilustra como exemplo e pode denotar uma realidade de nosso mundo contemporâneo, no qual não há mais espaço para sistemas arcaicos que subjugam milhares para o bem estar de uma minoria.
Tendo sido iniciada na Tunísia há quase um mês, como dito acima, a revolta popular contra governos totalitários, avança pelo oriente médio.
Na Argélia, protestos contra o governo resultaram em vários mortos e dezenas de feridos. O estado temendo o fortalecimento do movimento baixou preços de diversos produtos. Contudo a tentativa funesta em abrandar o avanço popular não conteve os manifestantes que promovem saques a edifícios do governo e agências bancárias.
Quase ao mesmo tempo em que o Egito estava sendo sacudido, a Jordânia também atravessava um momento de articulação popular onde milhares gritavam contra o alto custo de vida e a política econômica do governo. No Iêmen cerca de 20 mil pessoas na capital do país se levantaram contra Ali Abdallah Saleh que está no poder há 32 anos.
Na terra das pirâmides mais conhecidas do mundo, Hosni Mubarak tenta se manter no poder a tudo custo. Já acabou com a internet, colocou tanques nas ruas e agora a guarda nacional-pessoal esta a paisana nas principais cidades para organizar movimentos de apoio ao ditador e fazer parecer que conta com apoio de uma parcela da população. Essa estratégia também disfarça as mortes de manifestantes de oposição que não entram na conta da truculência estatal, e sim como vítimas do embate entre populares.
Neste Domingo (06/02) a última cartada do Mubarak foi a de negociar uma reforma constitucional com grupos de oposição. Um dos pontos será a imposição de limites ao poder da Presidência. Foi prometida pelo governo a liberdade de imprensa, liberdade na internet e a libertação dos presos durante os confrontos de rua dos últimos dias. Também há chances de o estado de emergência citado anteriormente ser revogado. Segundo a imprensa, não haverá perseguição aos líderes dos movimentos. Contudo a oposição ainda não bateu o martelo em relação ao acordo, mas nas ruas a situação é de relativa calma e diminuição dos protestos.
A revolta egípcia atinge em cheio aos interesses estadunidenses e israelitas, pois o Egito, assim como Arábia entre outros, são aliados importantes do imperialismo norte-americano e da política sionista, respectivamente. Analistas, como M K Bhadrakumar do Ásia Times On-line identificam claramente essa perda de espaço político na região com os movimentos atuais:
- Não há traço de “antiamericanismo” nos levantes, pelo menos até agora. Mas os regimes que vierem a estabelecer-se farão oposição séria ao apoio monolítico dos EUA a Israel, e não será questão de rotina. A principal preocupação de Israel será que as novas realidades no Oriente Médio talvez obriguem os EUA a reprogramar sua visão regional.
Óbvio que estamos a léguas de distância de reformas estruturais que orientem a outra ordem societária, porém qualquer movimento do povo, desde que não esteja servindo de massa de manobra (que a priori não parece ser o caso) é bem vindo, deve ser analisado e tomado como exemplo.
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