quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

Análise do Carnaval 2014

O resultado do Grupo Especial não trouxe grandes surpresas. O favoritismo da Viradouro era reconhecido entre críticos e na apuração foi brevemente ameaçado por Imperatriz e Vila e com mais afinco pela Grande Rio, que não resistiu após o terço final. A vermelho e branco simplesmente passeou na avenida com uma qualidade plástica impressionante que soube trabalhar tanto a ausência de luz assim como a luz do Sol. A harmonia e evolução da escola lembram os tempos de rolo compressor da Beija Flor. Durante seus ensaios na Amaral Peixoto, era notável a a força de seu chão e isso se refletiu na Sapucaí. 

Ao falar da Viradouro (e da Grande Rio) é necessário citar o uso da iluminação cênica, timidamente usada no ano passado e explorada com muito mais destaque agora. Goste ou não o fato é que é um processo, provavelmente, irreversível, assim como várias mudanças que o ocorreram ao longo do tempo e que geraram protestos e discussões, mas que se consolidaram. Particularmente acredito que ela favorece ao espetáculo se usada de forma coerente, consciente e controlada. Um exemplo de bom uso foram em sambas que falavam em 'trovoada' ou 'tempestade' nos quais o efeito de flash era usado ou quando havia uma passagem com o termo 'brilhou' com luz sendo apagada momentos antes para então acender nesta parte do samba. As luzes com cores específicas para valorizar determinada alegoria ou fantasia assim como a ausência de iluminação para sobressair roupas e carros fluorescentes também me agradaram e tais recursos já são empregados no festival de Parintins com bastante sucesso. Sim, é uma forma de espetáculo distinto, mais teatral do que o Carnaval, porém tudo passa pelo uso com parcimônia para que esse recurso não se sobressaia em relação ao sambista e aos desfilantes. Os efeitos de iluminação não podem ser protagonistas e sim suporte para contar a história, apresentar o enredo e valorizar a música e a festa.

Voltando a classificação, nas demais colocações me causou certa surpresa o desempenho do Salgueiro, que esperava-se não retornar nas campeãs, apesar de um desfile sem erros notórios não se destacou, assim como certa benevolência com a Tuiuti que era apontada como possível "adversária" da Porto da Pedra na briga contra os rebaixamento, mesmo após a escola de São Gonçalo ter deixado um buraco de mais de 100 metros, não mostrado na transmissão televisiva. 

Aliás a transmissão da Globo merece destaque. Por anos a fio a emissora priorizou o BBB e deixou de transmitir a primeira escola e por questões de estratégia comercial não passava os esquentas e terminava a transmissão muito antes da escola chegar ao final. Ou seja, o menos possível era exibido da escola e ainda por cima insistia com repórteres nos camarotes dando voz a pessoas sem qualquer importância para a festa. 

Quando enfim concorda em passar todas as escolas e desde o esquenta resolve ficar mais de 10 minutos com imagens da bateria no primeiro recuo cortando para algumas reportagens na arquibancada. A escola quase chegando ao meio da pista e nada. Espectadores quase foram 'premiados' com a não apresentação da comissão de frente. Fecha o pacote o som do samba muito baixo e áudio do estúdio vazando, problema resolvido, em grande parte, no segundo dia.De ponto positivo foram as reportagens com os trabalhadores dos barracões.

Para ser justo a transmissão da Band da Série Ouro também foi sofrível. Excessivas imagens áreas, poucas tomadas mostrando detalhes das fantasias e carros e apresentadores fora de sintonia dos comentaristas.

Retornando às agremiações, destaque positivo para o bom e, especialmente, emocionante desfile da Portela. Um bom conjunto de fantasias, alegorias corretas, samba bonito e evolução adequadas retomaram o orgulho que os componentes que estavam descontentes com o caótico (e menos despontuado do que merecia) desfile de 2023. 

Já os maus resultados de Mangueira e Tijuca resultaram em mudanças. Na verde e rosa a dupla de carnavalescos foi desligada pouco depois da apuração e no dia seguinte o Diretor de Carnaval da escola tijucana já não fazia mais parte dos planos da escola para 2025. A queda na qualidade plástica e problemas no acabamento (pelo menos nos carros e mais especificamente no carro da Alcione tocando trompete) após saída de Leandro Vieira da velha manga pode ter pesado na decisão. Já a azul e amarela tijuca, desde a escolha do samba já denotava um desfile burocrático e assim foi confirmado. 

Não se pode terminar esse texto sem mencionar a acesso de UPM ao grupo principal depois de 52 anos. A escola que nesse período passou por grupos de avaliação e série E (antiga sexta divisão do samba carioca) e teve 5 vices no grupo de acesso desde 2015 (alguns injustos) enfim chega a glória do Grupo Especial. Parabéns à Unidos de Padre Miguel e sua comunidade. 

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