Neste, porém Mello oferece ares mais otimistas do que em sua anterior incursão por de trás das câmeras com o longa 'Feliz Natal' (também fez o curta 'Quando o Tempo Cair'). A história traça a redenção de um palhaço que se encontra em um ‘hiato’ profissional no qual questiona não somente seu desempenho como também sua vida nômade, inerente aos mambembes. Realidade esta que é muito bem pintada pelo filme através das viagens e dificuldades enfrentadas pelos artistas de circo.
A segurança com que controla a película se faz presente tanto nos momentos cômicos (dos mais sutis aos escancarados) assim como nos dramáticos que equilibram o filme e lhe confere uma leveza, porém sem perder o tom autoral e artístico. É como se fosse um mini-clássico com clima de sessão da tarde. Gostoso de assistir.
E como dito lá em cima, também chama atenção o cuidado com os atores. Neste sentido, Selton Mello se aproxima de um diretor rodado tal a sua capacidade de extrair inspiradas interpretações de todos no filme, desde aqueles com pequenas participações, como o impagável delegado interpretado por Moacir Franco ou mesmo a ponta de Ferrugem como um servidor público, chegando aos atores principais com destaque para Paulo José que brilha em cada cena e emociona pela força de vontade que substitui a vivacidade prejudicada por sua doença. Doença que em apenas um momento se torna evidente em todo os noventa minutos do filme.
O único ponto de ressalva é sobre o contraponto vivido pelo palhaço do título, quando este opta pelo mundo ‘normal’. Não que tenha sido mal executado, mas podia ter sido estendido, prolongado, o que resultaria em uma maior contradição e evidenciaria aos espectadores a dificuldade de adaptação do artista ao mundo burocrático nosso de cada dia. Não compromete o ótimo resultado final, mas deixaria o filme mais redondo.
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